Fernanda
A primeira noite com a tatuagem foi como dormir com um segredo queimando na pele.
O toque do travesseiro ardia, o cabelo roçava e me lembrava a cada segundo que, a partir de agora, eu não era só minha.
Eu ainda não tinha visto o desenho, mas sentia. Guilherme tinha marcado o próprio nome na minha nuca, como quem sela um contrato sem direito a rescisão.
Nos primeiros dias, andei pela boate com o cabelo solto, na tentativa desesperada de esconder a marca. Mas não adiantava. Os olhares me perseguiam. As conversas paravam quando eu passava. As outras meninas murmuravam entre si, trocando olhares de pena e inveja.
— Você viu a Fernanda? — ouvi uma delas sussurrar. — Parece que agora é só do Guilherme.
Não me virei, não discuti. Só continuei andando, os saltos ecoando pelo chão da boate, cada passo uma tentativa de provar a mim mesma que eu ainda era livre.
Mas a verdade queimava na minha pele.
Eu já não era.
E então veio a Miriam.
Eu sabia que, mais cedo ou mais tarde, ela viria