📓 Narrado por Miguel Satamini — Terça-feira, 18h52 da noite
As horas passaram, mas nenhuma delas fez o favor de andar direito.
Trabalhar virou fingimento.
Assinei papéis que nem li, respondi e-mails que nem lembro, e dei ordens só pra não ter que ouvir o próprio pensamento.
O sol já tinha sumido, e o reflexo da cidade piscava nos vidros da minha sala como um palco cheio de fantasmas.
Luzes de prédios, buzinas, o som do trânsito lá embaixo tudo seguia, menos eu.
A caneta girava entre meus dedos.
Clara ainda não tinha aparecido.
Nem uma mensagem, nem um telefonema.
Silêncio.
Silêncio dela, que sempre foi o mais barulhento.
Encostei as costas na poltrona e soltei o ar, impaciente.
O terno ainda estava impecável, mas por dentro eu sentia o peso de um homem despido do controle que sempre jurou ter.
O problema é que ela tinha aprendido a me ferir sem levantar a voz.
Era só sumir.
Só não atender.
Só não aparecer e pronto.
Eu virava o idiota que jurava não