capítulo 93

📓 Narrado por Miguel Satamini — Terça-feira, 18h52 da noite

As horas passaram, mas nenhuma delas fez o favor de andar direito.

Trabalhar virou fingimento.

Assinei papéis que nem li, respondi e-mails que nem lembro, e dei ordens só pra não ter que ouvir o próprio pensamento.

O sol já tinha sumido, e o reflexo da cidade piscava nos vidros da minha sala como um palco cheio de fantasmas.

Luzes de prédios, buzinas, o som do trânsito lá embaixo tudo seguia, menos eu.

A caneta girava entre meus dedos.

Clara ainda não tinha aparecido.

Nem uma mensagem, nem um telefonema.

Silêncio.

Silêncio dela, que sempre foi o mais barulhento.

Encostei as costas na poltrona e soltei o ar, impaciente.

O terno ainda estava impecável, mas por dentro eu sentia o peso de um homem despido do controle que sempre jurou ter.

O problema é que ela tinha aprendido a me ferir sem levantar a voz.

Era só sumir.

Só não atender.

Só não aparecer e pronto.

Eu virava o idiota que jurava não
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