O som da chaleira assobiando na cozinha preenchia a casa de Marina, como uma trilha sonora suave para o que estava por vir. Clarice observava a estante repleta de livros antigos, misturados com porta-retratos empoeirados. Helena sentava-se mais ereta no sofá, como se sua coluna sustentasse não só seu corpo, mas uma nova responsabilidade: reconstruir sua própria história.
Marina voltou com uma bandeja e xícaras de porcelana decoradas com pequenos lírios. Ela serviu o chá com movimentos lentos, como quem respeita o tempo e o que ele guarda.
— Vocês sabem — começou ela, após o primeiro gole —, a Luísa me procurou um mês antes de desaparecer de vez da cidade. Foi a última vez que nos vimos.
Helena e Clarice se entreolharam.
— Ela disse algo sobre o motivo de ter ido embora? — perguntou Helena, contendo a ansiedade que crescia dentro de si.
Marina assentiu, o olhar perdido em alguma memória que ainda doía.
— Ela estava cansada. Disse que precisava fugir de tudo, mas principalmente de si me