A manhã estava suspensa.
Nem clara, nem nublada. Um céu de algodão silencioso pairava sobre a Casa Entre, como se tudo estivesse em pausa — até mesmo o tempo.
Foi Joana quem ouviu primeiro: o portão chiou. Mas não como de costume. Chiou como se engasgasse, hesitante.
Sol largou as pedras que alinhava em espiral e correu até o portão. Helena, com as mãos ainda sujas de tinta, parou na soleira da casa. Mirna sentiu o vento mudar e sussurrou:
— Hoje chega gente com peso nos ombros.
Clarice surgiu devagar, como quem volta com um pedido nos olhos. Ela vinha com uma mala pequena e um homem ao lado. Alto, os passos firmes demais para um chão de terra. Vestia camisa clara, mas seus gestos eram escuros.
— Ele veio ver — disse Clarice, sem precisar explicar mais.
O homem parou antes do portão. Olhou ao redor como quem tenta medir o invisível.
— Arthur — disse, oferecendo a mão.
Lúcia olhou primeiro para a mão, depois para o olhar. Apertou com firmeza contida.
— Aqui, a gente se apresenta com o