A manhã não se anunciava — apenas estava.
Um véu de névoa leve cobria o quintal, como quem vela um segredo. As folhas do ipê ainda dormiam. E os passos eram quase pedidos de licença.
Arthur acordou antes da chaleira, mas não saiu logo do quarto. Ficou ali, deitado, com os olhos abertos e as mãos sobre o peito, como se ouvisse um som que ainda não sabia decifrar. A camisa estava amassada. O relógio, esquecido sobre a cadeira.
Na cozinha, Mirna aquecia água. Não olhou quando ele chegou. Apenas puxou uma cadeira com o pé, como quem diz: senta, mas não se apressa.
— O pão tá quase — disse, sem urgência. — E hoje o céu tá escutando mais que falando.
Arthur assentiu. Olhou para fora. As árvores pareciam mais perto. Ou ele que tinha desinchado?
Clarice passou pela janela. Não notou que era observada. Carregava uma bacia com goiabas e um silêncio inteiro no corpo. Não evitava ninguém — apenas não precisava ser vista.
— Ela tá bem? — arriscou Arthur, mais para si.
— Tá sendo — corrigiu Mirna.