Seis Anos Atrás
A chuva fina que caía sobre a cidade não lavava a dor, apenas a espalhava, diluindo-a nas calçadas e transformando o asfalto em um espelho distorcido de tudo que Olívia havia perdido.
Seus pés arrastavam-se pelo meio-fio, o salto direito quebrado; metáfora demasiado óbvia para o estado de seu casamento, mas ela não tinha energia para ironias.
O saldo esquerdo ainda intacto batia irregularmente contra o concreto, ecoando o ritmo descompassado de seu coração.
Ela parou sob uma marquise, encostou a testa fria no vidro de uma loja fechada e fechou os olhos. A imagem voltou, nítida e cruel: Benjamin e Clara entrelaçados não apenas em seus lençóis, mas em um conluio de gestos íntimos que falavam de uma história muito mais longa do que aquela tarde. Não fora um acidente, um deslize; fora uma escolha meticulosa, executada no espaço que ela considerava seu refúgio.
O gosto da traição era amargo e familiar na sua boca, como um remédio que se recusa a descer. Ela riu, um som oc