O som do motor parecia distante, abafado, como se viesse de outro mundo.
Ian observava a estrada pela janela do carro, o asfalto se estendendo diante deles em uma linha infinita, cortando o cinza pesado do céu.
O vento batia contra o vidro, e o cheiro de chuva iminente misturava-se ao de couro e perfume; o perfume de Olívia, sentada ao seu lado, imóvel, silenciosa.
Mas ele mal percebia.
Sua mente vagava para longe dali, para um tempo em que tudo era mais simples.
Lembrou-se da infância, das manhãs no jardim da mansão Moretti, o som grave da risada de Nicolau ecoando quando ele o levantava nos braços, girando-o no ar.
O avô tinha mãos grandes, firmes, e olhos severos que sabiam, mesmo quando o mundo parecia ruir, manter tudo em ordem.
“— Homens Moretti não choram, Ian. Eles constroem impérios com as próprias lágrimas.
— Mas e se eu não quiser um império?
— Então construa algo que sobreviva a você, menino.”
Ele construiu, pensou agora.
Construiu poder, medo, silêncio... e perdeu quase t