O universo havia se reduzido àquele cubículo hospitalar. O ar era um caldo pesado de antisséptico, suor frio e desespero. Cada som era um golpe: o sibilante ritmo dos monitores, o ruído de passos apressados em linóleo, o sussurro tenso de ordens médicas que tentavam, em vão, desafiar a morte.
— Pressão caindo! Cinquenta de adrenalina, agora! — o grito do médico ecoou contra as paredes brancas, um comando de guerra contra um inimigo invisível.
—Carga a 200! Afasta!
O corpo de Nicolau arqueou-se no leito, um espasmo violento e antinatural sob o choque dos desfibriladores. O som metálico do equipamento fundiu-se com o bip-bip-bip constante do monitor cardíaco, um canto fúnebre que cortava o ar como uma sentença já proferida.
Ian estava paralisado na soleira da porta, as pernas de chumbo. Seu próprio coração batia em um ritmo frenético e descompassado, um tambor caótico que ecoava a agonia das máquinas. O mundo desfocou-se à sua volta, tudo se tornando secundário diante do homem pálido e