A música da boate batia como um coração enlouquecido, pulsando nas paredes, nos corpos, no chão. Cada batida era um soco no peito de Olívia, que tentava, a todo custo, fingir que estava solta, leve, parte daquele caos de luzes vermelhas e azuis que piscavam sem piedade, revelando pedaços de rostos e escondendo verdades inteiras.
Carla girava-a pela pista, as mãos firmes, gargalhando como se a vida fosse só aquele instante. O vestido preto colado ao corpo de Olívia parecia gritar mais do que ela desejava. Cada olhar masculino que pousava nela era um lembrete incômodo: estava fora de lugar, fora de si.
Mas com duas taças queimando dentro, ela tentava enganar a própria consciência.
Ria.
Ou pelo menos imitava um riso.
— Isso! — Carla gritou por cima da batida, o rosto iluminado pelo neon. — Agora você parece viva!
Olívia gargalhou, mas sentiu o gosto salgado das lágrimas que ainda não tinham saído. Viva. A palavra parecia uma piada. Ela dançava, mas, dentro, cada passo a lembrava do quart