Sabe aquela história de destino? Se já tá tudo escrito ou se a gente escolhe o caminho? Olha, eu sempre fui do time que não acreditava nessa de _"já era"._ Até sentir um negócio aqui dentro, forte, sabe? Uma voz que grita mais alto que a minha cabeça, dizendo que, bem, talvez meu futuro já tivesse um roteiro pronto. E que roteiro! Pra começar, fui traficada. Assim, sem pedir licença. Uma máfia mexicana me tirou do meu mundo e me jogou num turbilhão que eu jamais imaginei viver. E no meio desse caos todo... eu me apaixonei. Já viu essa? Se o destino me trouxe até esse inferno, por que diabos ele colocou um amor tão... improvável no meu caminho? Um amor que me consome, que é errado até a raiz dos cabelos. E a ironia? Ah, a ironia adora brincar comigo! Me apaixonei por um mafioso. Sim, você não leu errado. Justo por alguém do mesmo submundo que me arrancou de tudo. Mas o que realmente aperta meu peito não é nem amar um cara do "lado de lá". O que me destrói é que o Miguel... o cara que o destino (esse safado!) colocou na minha vida e fez meu coração bater mais forte... é alguém que eu não posso amar do jeito que amo. Entende? Mas eu sinto, lá no fundo, que essa história não acaba aqui. Não pode ser que o destino só tenha reservado sofrimento pra mim. Não é justo! E quer saber? Eu me recuso a acreditar que esse é o fim. A minha história... ah, ela ainda tem muita coisa pra acontecer. Vem comigo descobrir o que o destino - ou minhas escolhas - reservam pra mim?
Ler maisGuadalupe
Ginevra: Volta aqui agora, sua garota mal-educada! — a voz estridente da minha mãe ecoou pelo corredor enquanto eu arremessava a porta do meu quarto com um estrondo raivoso, trancando-a em seguida.
— Eu odeio essa merda de vida! — rosnei para o vazio, antes de me jogar na cama e afogar as lágrimas no travesseiro. Do outro lado da porta, a torrente de insultos maternos não cessava, cada palavra uma farpa afiada cravando em minha alma: insignificante, imprestável, um peso morto que só lhe trazia desgraça.
Tapei os ouvidos com força, tentando abafar aquela avalanche de crueldade. Eu sei, não sou flor que se cheire. Mas também não nasci em um lar de comercial de margarina, onde se poderia dizer com falsa indignação: "Ah, não consigo entender por que essa menina é assim, sempre lhe demos uma boa educação."
Não, meus caros. Longe disso.
Minha família é um pandemônio, um reflexo sombrio do caos que se instalou em minha existência. Moro em Catânia, essa cidade siciliana sufocante, um labirinto de ruas estreitas e perigos espreitando a cada esquina. Ser mulher aqui é carregar uma sentença de medo constante, a sombra do estupro pairando como um espectro nauseabundo.
Recém-saída do ensino médio, a urgência de escapar desse inferno, dessa casa onde respiro o ar viciado da opressão, me consome. Divido o teto com minha mãe e meu padrasto. Meu pai é uma figura fantasmagórica, um silêncio ensurdecedor no passado da minha mãe, um tema proibido que ela varre para debaixo do tapete a cada pergunta minha.
A verdade é que diálogo entre nós duas é uma miragem. Às vezes, sinto que para mim ela é apenas isso: a mulher que me pariu, um mero acidente biológico, desprovida de qualquer laço afetivo genuíno. E, em seus piores momentos, percebo o mesmo eco em mim. Sinto-me um objeto, manipulado conforme seus humores e as vontades abjetas do seu companheiro.
Ela vive subjugada ao meu padrasto, um verme que se deleita em me assediar, e a culpa, segundo ela, recai sobre mim. Afinal, quem mandou eu "desfilar" de roupas curtas pela casa? Ele é homem, coitado, incapaz de controlar seus instintos bestiais. Essa inversão nauseante me enche de repulsa e revolta.
Preciso de um emprego, qualquer um, para cavar minha fuga dessa prisão.
Visto qualquer trapo – uma calça jeans rasgada e um moletom com capuz – e me atiro na chuva torrencial, buscando na fúria do tempo algum alívio para a mente em frangalhos. Sei que as ruas aqui são um território hostil, mas às vezes anseio por um encontro sombrio, qualquer coisa que me arranque desse limbo de sobrevivência.
Enfio os fones de ouvido, escondo o celular no bolso para protegê-lo da água e começo a correr assim que mergulho em uma rua mal iluminada, um corredor escuro como tantos outros. Foi então que dois faróis rasgaram a escuridão atrás de mim.
"Que droga!", pensei, a paranoia gelando minhas veias. Um carro me seguia. Senti o pânico me encurralar entre o muro úmido do beco e o veículo preto fosco que se aproximava lentamente. Um olhar rápido ao redor revelou uma lixeira. Instintivamente, comecei a procurar algo afiado, uma arma improvisada para me defender.
A sorte, por um instante cruel, me agraciou com uma barra de ferro enferrujada, provavelmente descartada ali. Empunhei-a com firmeza, o metal frio na minha mão trêmula, e parei, encarando a escuridão de onde os faróis emanavam. Estava pronta para apanhar, mas também para lutar. Se aqueles miseráveis achavam que iriam me violentar sem resistência, estavam redondamente enganados.
Do carro, emergiram dois homens de terno preto, altos e com uma presença intimidante. Caminhavam em minha direção com uma determinação fria, como predadores experientes.
Recuei alguns passos, a barra de ferro erguida como um escudo precário.
Guadalupe: Não se aproximem! Estou armada! — a voz me saiu embargada, quase um sussurro. Que merda eu estou tentando fazer? — PAREM! — gritei, o desespero tingindo minhas palavras quando vi que eles não hesitavam. — Tudo bem, eu avisei. — E, num ato de loucura desesperada, corri em direção a eles, brandindo a barra de ferro como uma arma primitiva. Antes que eu pudesse sequer levantá-la, um dos homens desferiu um soco brutal no meio do meu rosto. Cambaleei para trás, a dor lancinante explodindo em meu crânio, o gosto metálico do sangue invadindo minha boca, enquanto miríades de pontos luminosos dançavam diante dos meus olhos.
— Não tente resistir, anjinho. Você será nossa agora — sibilou um deles, a voz carregada de uma ameaça fria e calculada.
Guadalupe: Por favor, não me machuquem — implorei, a consciência esvaindo-se como areia entre os dedos. Lutei para não sucumbir à escuridão quando senti uma mão agarrar meus cabelos e puxá-los para trás, não com brutalidade, mas com uma possessividade fria. Em seguida, um pano úmido e com um cheiro adocicado foi pressionado contra meu nariz. O torpor invadiu meu corpo, minhas pálpebras pesaram e a escuridão me engoliu por completo.
Acordei em um lugar estranho, um quarto bizarro adornado com manequins vestindo roupas vulgares. Fui recebida por olhares curiosos de outras garotas, seus semblantes carregando uma mistura de desalinho, roupas curtas que paradoxalmente pareciam confortáveis.
Algumas me fitavam com interrogação estampada no rosto, outras com uma pena silenciosa, enquanto algumas pareciam mais interessadas em suas unhas.
Guadalupe: Onde eu estou? — perguntei, a voz rouca e embargada pelo medo. Levei instintivamente a mão ao nariz, esperando encontrar o rastro pegajoso do sangue. Mas não havia nada. Estava limpa, vestindo roupas novas e baratas, um perfume enjoativo impregnando o ar ao meu redor.
— Não se desespere — disse uma das meninas, aproximando-se e sentando ao meu lado. Seus olhos castanho-claros, apesar da juventude aparente – talvez uns vinte anos –, carregavam a marca de um sofrimento precoce. Ela falava em espanhol, um idioma estrangeiro que soava como um prenúncio sombrio.
— Como ela não vai se desesperar, Carmen? Deixa ela se desesperar de uma vez. Todas nós passamos por essa merda — interrompeu outra, de cabelos volumosos e um tom de voz áspero, enquanto massageava as pernas com um hidratante de cheiro doce e artificial.
Antes que a tal Carmen pudesse me dirigir outra palavra, a porta do quarto se abriu com violência. Um homem alto, musculoso e de pele pálida como cera surgiu no umbral, empunhando uma arma grande e ameaçadora. Meu corpo estremeceu de pavor, mas tentei disfarçar meu terror observando as outras garotas. Elas fitavam o homem com uma resignação fria, não que seus olhos estivessem desprovidos de medo, mas era como se a cena fosse corriqueira, um ritual macabro ao qual já estavam acostumadas.
As imagens da noite anterior invadiram minha mente em câmera lenta: os homens saindo do carro, seus olhares predatórios, as roupas sumárias das outras meninas, o ambiente carregado de uma tensão palpável, a arma na mão daquele homem.
Foi então, sem nenhum esforço consciente, como se uma chave sombria tivesse virado dentro de mim, que a verdade brutal se impôs.
Eu havia sido traficada.
Estou novamente na casa amarela,que é o nome que apelidamos o prédio onde estão nos mantendo presas. Estou um tanto mal ,minhas pernas estão tremendo e agora eu estou tomando banho ,quando a Sara entra no banheiro me trazendo uma toalha e roupas limpas.Sara: não consigo nem mesmo imaginar o quanto tudo deve ter sido horrível. Guadalupe: Sim,foi horrível! Eu me senti muito burra naquele momento,quando ele tentou abusar de mim. Não estava acreditando que consegui fugir de um bordel sem ter sido violada,para ser estuprada por um cara na rua - conto ,pensando.Sara: Nem de longe você é burra,minha amiga. Você é muito esperta e muito corajosa! - fala me entregando a toalha - Eu nunca,jamais, teria a bravura de fazer o que você fez - pausa ,e ambas estamos pensativas - Acredita em Deus, Lupi ? Porque foi ele quem agiu por você,não tem outra explicação. Escapou de Alejandro e ainda mais, de um doente que confiou na rua.Guadalupe: É… talvez tenha sido Deus - digo e começo a vestir min
Um carro preto estacionou pouco depois de tudo acontecer. Portas se abriram com estalos secos e mãos frias me puxaram para dentro. Não disseram uma palavra. Os dois homens que vinham de moto ficaram para trás, observando o corpo inerte do homem que, segundos antes, tentava me violentar. Talvez estivessem procurando uma maneira de se livrar do cadáver. Talvez já soubessem exatamente o que fazer. Não era a primeira vez.Por fora, eu estava estranhamente tranquila. Por dentro, devastada. Como se nada tivesse acontecido. O corpo reage ao trauma de formas curiosas: o meu apenas desligou. Um modo de proteção, talvez. Choque, diriam os médicos. A ficha ainda não tinha caído. Era como se tudo estivesse acontecendo com outra pessoa.Um homem tentou me estuprar. Com a faca pressionada contra minhas costas, segurava meu cabelo com violência, respirando no meu pescoço, me tratando como um pedaço de carne. E então... tiros. Três. Disparados pelos próprios cafetões. O sangue dele me respingou. Eu s
Desci as escadas quase tropeçando nos próprios pés. Já deviam ter se passado dois minutos inteiros desde que comecei a correr, e os degraus pareciam infinitos — o que fazia sentido, considerando o tamanho absurdo daquele prédio.Quando finalmente alcancei a área de serviço, tratei de endireitar o corpo, ajeitar os cabelos e respirar fundo. Precisava parecer calma, controlada. Como se não estivesse fugindo de um inferno.Sem saber ao certo o que fazer, mirei a saída. Meus passos foram cuidadosos, medrosos... mas, surpreendentemente, consegui. Eu saí. Eu saí! Ninguém me viu. Estou fora. Livre — ou pelo menos é o que parece por agora.A rua à minha frente fervilha de carros, gente indo e vindo sem sequer imaginar o que acabei de deixar para trás. Caminhei pela calçada sem rumo, como um fantasma recém-liberto. Não sabia para onde ir. Não tinha dinheiro. Não conhecia absolutamente nada daquele lugar. Estava perdida.Meus pés me levaram até uma pracinha simples. Pequena, mas exposta. Um
Fui até a recepção do hotel escoltada pelos cafetões. Chinchurreta já não estava mais com a gente. Tinha ficado lá fora, como quem queria se manter longe demais da cena.Eu, como sempre, observando tudo. Cada detalhe. Cada olhar. Cada gesto.Será que é verdade o que Chinchurreta disse? Que esse hotel gigantesco é de Alejandro? Olhando ao redor, essas pessoas bem vestidas, famílias com crianças, gente rindo, tomando café… não parece que conhecem alguém como ele. Na verdade, duvido até que saibam que ele existe.E se elas não souberem quem ele é… será que me ajudariam se eu pedisse? Ou será que se assustariam comigo? Será que Chinchurreta mentiu só pra me meter medo?Pode até ser que Alejandro seja o dono disso tudo. Ele tem dinheiro pra isso. Muito dinheiro. É traficante, afinal. Mas aqui, nesse saguão com cheiro de perfume caro, eu sinto que, se corresse, se pedisse socorro… talvez alguém acreditasse em mim. Talvez me salvassem. Ou talvez não. Talvez olhassem pra mim e não vissem nada
Conversei e bebi com Miguel a noite inteira. Foi uma daquelas conversas que a gente nem percebe o tempo passar, entre um gole e outro, risos contidos e perguntas que, no fundo, eu sabia que ele não responderia. Eu estava curiosa, queria saber sobre ele, entender de onde vinha aquele homem tão seguro, tão enigmático… mas Miguel, como sempre, desviava. Só queria saber de mim, da minha vida, das minhas dores. Isso me incomoda. Sinto que a troca é injusta. Por que ele pode se esconder e eu não?Ele me disse que sua vida não tinha nada que me interessasse. Sério? E a minha tem? Depois de tudo que contei, das cicatrizes que revelei, ainda assim ele acha que sou mais interessante? Parece uma piada mal contada. E, sinceramente, acho que a vida dele esconde muito mais do que ele deixa transparecer. E isso, isso me inquieta.Fomos ao restaurante de sempre, e como já era de costume, estávamos escoltadas. Já tinha me acostumado com o olhar desconfiado dos seguranças, com os passos marcados, com a
Miguel: Isso... Enquanto isso, posso conhecer o seu corpo também?A ponta de seu dedo indicador toca meu colo, desliza lentamente entre os meus seios, traçando um caminho que me faz arfar. Seus olhos estão fixos nos meus, escuros, fundos, carregados de uma fome que não esconde.Miguel: Posso?Assinto em silêncio, a respiração presa, entregue. Ele não espera mais respostas. Apenas age.Sua mão toca minha pele com precisão cirúrgica, mas com uma delicadeza absurda. É como se ele soubesse exatamente onde tocar, quanto pressionar, o que fazer para me deixar em chamas.Ele se aproxima mais, sua boca roça meu rosto com um beijo lento, quase casto. Mas é uma mentira. Há pecado em cada gesto dele.Desce para o meu pescoço e eu solto o ar, arfando como se estivesse me afogando nele.Miguel: Você gosta de ser beijada aqui?Guadalupe: Eu sinto... coisas...Miguel: Que tipo de coisas? - Ele sussurra no meu ouvido, a voz baixa, arranhada, cheia de segundas intenções. Eu abaixo o olhar, sem coragem
Último capítulo