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Cap 8. Quarentão

— Doze mil! — grita um homem encostado na parede, com um cigarro nos lábios e um olhar nojento enquanto seca Sara com os olhos como se ela fosse um pedaço de carne exposta. Aquilo me deu ânsia.

Carmen: Doze mil para o senhor de terno vermelho! — Carmen anuncia no microfone, com a voz forçada de entusiasmo.

O homem em questão — usando um terno berrante, de gosto duvidoso — sorri como um idiota, nervoso, esperando que ninguém supere seu lance.

— Quinze mil! — ecoa uma nova voz, firme, vinda dos fundos do salão. O burburinho se espalha como fogo em palha seca. Todos olham para trás tentando descobrir quem teve coragem de subir tanto o valor.

Foi aí que eu o vi. Ele não estava ali só. Era um jovem — ou quase — devia ter entre 25 e 27 anos, e a luz do ambiente o destacou quando ele virou levemente o rosto para observar quem havia dado o último lance. Naquele gesto, vi melhor o rosto dele. E, mesmo naquele cenário grotesco, não consegui evitar o pensamento: ele era bonito.

Alto, provavelmente mais de um metro e oitenta. De longe parecia magro, mas o terno traía os músculos bem definidos. Seu porte físico revelava um percentual alto de massa magra — dava pra imaginar o abdômen esculpido sob o tecido caro. Era como se o terno lutasse pra esconder a força que ele carregava no corpo.

O nariz era médio, ligeiramente empinado. A boca? Um pecado: bem desenhada, rosada. Sobrancelhas grossas e marcadas, olhos estreitos que transmitiam suspeita, talvez desprezo. E, por algum motivo, isso só o tornava mais atraente. Um perigo que seduz.

Os cabelos eram castanhos claros, ondulados, jogados pro lado de forma displicente, mas que com certeza era milimetricamente pensada. Ao lado dele, um homem bem mais velho — o quarentão — exalava poder e perigo. Era fácil entender que ele era o líder ali, o alfa do ambiente. O mais temido. O jovem inclinou-se e cochichou algo no ouvido dele. Seria segurança? Filho? Aliado? Difícil dizer. Mas era claro que tinha uma ligação forte entre eles.

Será que ele está interessado na Sara? — me peguei pensando. Torci em silêncio: Tomara que, se for ele, que ao menos seja gentil. Que faça ela se sentir um mínimo que seja... humana.

— Dezessete mil! — outro homem dispara, e Carmen, sempre fingindo empolgação, continua o teatro.

Carmen: E temos dezessete mil, senhores! Vamos lá, o prazer está à venda! Quem dá dezoito mil?

Sara e eu trocamos olhares. Ela estava com os olhos arregalados, tentando manter a pose.

Sara: Caramba... — ela sussurra pra mim, abismada.

Guadalupe: Eles ficam ricos às nossas custas... — murmuro entre dentes. — Vendem nosso corpo como se fosse uma peça de luxo. Tráfico humano de luxo... é isso o que somos agora.

— Vinte mil! — grita o primeiro homem de terno vermelho outra vez. Carmen vibra como se estivesse em um jogo de futebol.

Carmen: Vinte mil! E temos um lance generoso, senhores! Quem supera? Vinte e um mil, alguém?

A tensão cresce. Placas se levantam em sequência.

— Vinte e um!

— Vinte e dois!

— Vinte e três mil! — Carmen arregala os olhos e repete com teatralidade: — Vinte e três mil para o senhor... Javier!

O tal do Javier era horrível. Barrigudo, cabelo oleoso e um sorriso que gelava a espinha. Quando Sara viu que ele estava na frente, fez uma careta de puro desespero. Eu também fiquei em pânico por dentro. Não que qualquer um ali fosse melhor, mas Javier parecia... podre.

Carmen: Vamos, cavalheiros! — Carmen provocava. — Arrematem esse doce pecado colombiano. Jovem, virgem e deliciosa!

— Vinte e quatro mil! — Javier solta, babando. O olhar dele era de um predador doentio.

Sara me olha e balança a cabeça negativamente. Ela não queria. Nenhuma de nós quer. Mas o pavor dela agora era outro nível.

Carmen: Vinte e quatro mil... Dou-lhe uma... dou-lhe duas... — Carmen começa a contagem.

A música de fundo sobe. Uma batida sensual, suja. A atmosfera sufocava.

— Trinta e cinco mil! — A voz explode pelo ambiente como uma bomba.

Grave. Forte. Fria. Todos se calam.

A origem? O quarentão. Sentado no centro da boate, cercado por seus homens — entre eles, o rapaz bonito e marrento. O quarentão estava com a expressão dura, quase entediada. Era um homem de presença. Sexy e ameaçador. Uma mistura rara. Tinha a aura de quem manda em tudo e em todos.

Até Carmen perdeu o rebolado.

Silêncio.

Olhei para Sara. Ela me olhou de volta, com os olhos arregalados, o pânico estampado no rosto.

Sara: Esse homem me dá calafrios... — ela sussurrou com a voz embargada.

Guadalupe: Fica calma. Escuta o que eu vou te dizer. Faça tudo que ele mandar. Não reaja, não hesite. Sobreviver é o mais importante agora, tá bom? Você consegue. Você é forte, Sara. — falei no ouvido dela, engolindo meu próprio medo.

Carmen: Senhor Esteban Martínez. — Carmen retoma, agora com uma voz que parecia diferente. Mais... respeitosa. Era claro que esse homem tinha poder ali dentro. — Dou-lhe uma... Dou-lhe duas...

Meu coração batia acelerado. Eu não sabia se torcia para alguém cobrir a oferta dele ou se temia que isso acontecesse. Esteban não parecia bom, mas Javier parecia o próprio demônio.

Carmen: Dou-lhe três... VENDIDO para o senhor Esteban Martínez! Aplausos, senhores!

O salão voltou a se mexer, mas não como antes. Alguns aplaudiram com desânimo, outros pareciam resignados. Ninguém ousou lançar um valor maior.

Será que desistiram da Sara... por causa dele? Ou será que... estavam esperando por mim?

Carmen fez sinal para um dos cafetões, um que eu não conhecia.

Carmen: Acompanhe o cavalheiro e o seu prêmio até o quarto que ele desejar.

Foi aí que Esteban falou. Outra vez, sua voz atravessou o ambiente como um raio.

Esteban: A moça não é pra mim.

Pânico. A frase ecoou. Silêncio mais uma vez. Carmen franziu o cenho, confusa.

Carmen: Não...? — ela perguntou. O microfone quase escapou da mão dela. Esteban não respondeu. Apenas virou levemente o rosto... e olhou para o rapaz bonito ao seu lado.

O olhar dele foi como uma sentença. Não precisava dizer nada.

Era para ele.

O jovem também ficou surpreso. Os olhos dele se arregalaram por um breve segundo, como se não esperasse aquilo.

E eu... eu só conseguia pensar:

Será que ele vai ser diferente? Ou é só mais um no meio desse inferno?

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