cap 4. Alejandro

Os olhos de Carmen estavam marejados, a dor das palavras de Sara era palpável.

Adina avançou, a fúria estampada no rosto. 

Adina: Escuta aqui, sua insignificante vadiazinha! – Sua voz era carregada de veneno, cada passo em direção a Sara era uma ameaça. Instintivamente, me coloquei entre elas. Adina parou bruscamente, e um silêncio tenso se instalou no ar. Nossos olhares se encontraram, o meu e o dela, faiscando uma hostilidade pronta para explodir. 

Adina:  Sara... – Adina começou, os olhos fixos em mim por um instante, antes de se desviarem para a garota atrás de mim. – Você deveria lavar essa boca imunda antes de falar do que não sabe.

Guadalupe: Do que ela não sabe? – a indignação colorindo minha voz. – Que vocês ajudam esses vermes nojentos, isso já ficou claro para todas nós. Chegamos ontem e já vimos como você nos entrega. Disse que a Sara era virgem e só piorou as coisas para ela. Poderíamos ter resolvido isso lá embaixo, ela poderia ter escolhido com quem perderia a virgindade, ao menos em termos de aparência.

Adina soltou uma risada cortante.

Adina: Aqui não temos direito a escolha, sua idiota! – bradou, o desprezo escorrendo de cada palavra. – Vocês são novatas e, de um jeito ou de outro, esse plano ridículo de vocês não teria chance. A primeira noite será leiloada, quem der o maior lance leva. Você será a mais cara, apenas por isso. – Ela continuou encarando Sara. – Não deveria estar achando tão ruim, vai ganhar em uma noite o que nós não ganhamos em três dias.

Sara: Ah, nossa, devo me sentir feliz então? – Sara debochou, a ironia afiada como uma faca. – Devo agradecer a vocês por terem revelado isso a eles sem a minha permissão?

Carmen falou, a voz embargada por uma amargura profunda. 

Carmen: Vai chegar uma hora em que você fará o que for preciso para ter o mínimo de respeito deles aqui dentro. Sua virgindade revelada não é nada comparado a tudo o que passamos.

Guadalupe: Uma dor não anula a outra. Posso imaginar que tudo o que vocês viveram aqui... – tento argumentar, mas fui interrompida pela veemência de Carmen.

Carmen: Não! – A palavra cortou o ar, firme e dolorosa. Carmen me encarou, seus olhos fixos nos meus como se pudessem me perfurar a alma. – Você não é capaz de sequer imaginar... – Sua voz agora era um sussurro trêmulo, carregado de choro contido. O silêncio se estendeu, pesado e opressor. Quando finalmente me preparei para dizer que, mesmo assim, o sofrimento não justificava a traição de entregar as novatas, ela retomou a palavra, a acusação clara em seu tom. 

Ela se faz amiga quando chegamos, a que vai nos ajudar, faz diversas perguntas porque foi o que foi ensinada a fazer, já que eles sabem que se eles próprios perguntarem, mentiremos. Ela ganha nossa confiança nas primeiras três horas aqui, pergunta sobre tudo o que eles têm interesse em saber para depois nos dedurar a eles.

A porta se abriu, revelando um homem alto e moreno. Senti as meninas encolherem-se, um medo palpável emanando delas. Seu olhar era frio, calculista, quase perverso, mas havia uma inegável beleza nos seus traços, seguindo o padrão dos homens daqui do México: sobrancelhas densas e barba por fazer. No entanto, sua aura não era de bondade, carregava a marca dos cafetões que nos mantinham prisioneiras. Seus olhos azuis eram gélidos, sombrios. Vestia um terno preto impecável e uma gravata vermelha vibrante, exalando riqueza.

Alejandro: Ah, minhas lindas little angels... – Little angels? Que apelido ridículo! – Vejam só o que temos aqui. – Seus olhos nos percorreram, a mim e a Sara, de cima a baixo, como se fôssemos mercadorias em exposição. – Belas novatas. – Ele caminhou até nós, sem desviar o olhar. – Qual o seu nome? – Perguntou a Sara.

Sara: Sara. – Ela respondeu na defensiva, a voz hesitante.

Alejandro: Bonito! Talvez não precisaremos mudar. – Ah, ótimo, também querem mudar nossos nomes, talvez para algo que combine mais com... com o que somos forçadas a ser? Não gosto do meu nome, mas não quero trocá-lo por isso. – E o seu? – Agora ele se dirigiu a mim. Hesitei por um instante, sentindo o peso de sua presença, a aura de perigo que o envolvia. Ele parecia ser alguém importante nesse submundo do tráfico humano, talvez acima dos outros, talvez o chefe dos chefes. Era melhor não fazê-lo repetir a pergunta.

Guadalupe: Guadalupe. – Disse firme, encarando-o com um olhar desafiador. Não precisava fingir gostar dele; obedecê-los já era um fardo pesado demais.

Alejandro: Aaaah, temos aqui uma santa milagrosa. – Ele zombou, e Adina riu, um som seco e cruel. Lancei a ela um olhar fulminante, e seu risinho cessou, substituído por um sorriso debochado. – Esse teremos que mudar com certeza absoluta. As santas são sagradas para os mexicanos, talvez se ofendam por uma prostituta ter o nome de uma santa tão estimada por eles. – Não consegui disfarçar a raiva que me invadiu.

Guadalupe: O senhor me ofende! – Disse, forçando um sorriso cínico. – Já que aqui eu não sou uma prostituta, vocês me obrigam a ser uma.

Alejandro: Dá no mesmo. – Ele respondeu com um sorriso frio no canto da boca. Continuei sorrindo, mascarando com uma falsa amabilidade toda a minha repulsa por aquele homem. – Como quer ser chamada? Vamos, escolha. – Olhei para Sara, lembrando-me de como ela me chamava: Lupi. Eu havia gostado daquele apelido.

Guadalupe: Lupi. – Disse, a voz quase inaudível.

Alejandro: Ah, um pouco estranho... – Que sujeito insuportável! – Mas muito melhor, sem dúvidas. Os homens precisam de nomes assim, menores, para que consigam decorar mais fácil. – Ele analisou todas as meninas novamente. Seu olhar parou em Carmen, e senti uma estranha conexão entre eles, um significado oculto que me escapava. Carmen, no entanto, mantinha a cabeça baixa, os olhos fixos no chão, evitando qualquer contato visual.

Todas permanecemos em silêncio, enquanto eu apenas observava. Então, o olhar dele voltou para mim, examinando-me minuciosamente, detendo-se em cada detalhe.

Alejandro: De onde você veio? – Perguntou, o mesmo sorriso torto brincando em seus lábios.

Guadalupe: Catânia.

Alejandro: Aah, uma italiana? 

Guadalupe: Muri, ti scarsu! – sou mesmo italiana ,mas falo muito bem o siciliano.

Alejandro: Aah , língua siciliana? Não entendo nada dessa língua ,mas acho muito romântica... – Que bom que ele não entende ,porque desejei que morresse.  Seu olhar percorreu meu corpo, causando-me um profundo desconforto. – Ponha-se em pé. – Ele ordenou, a voz grave e autoritária. Engoli em seco, sentindo-me encolhida sob seu escrutínio. A quietude tensa das outras meninas tornava a situação ainda mais insuportável. Levantei-me lentamente, tentando manter uma postura altiva, embora meus olhos permanecessem fixos no chão. Ele começou a circular ao meu redor, avaliando-me dos pés à cabeça.

– Você não parece italiana. – Revirei os olhos discretamente. Odiava quando as pessoas faziam esse tipo de comentário, julgando minha aparência por um estereótipo. – Pode até ser magra, mas... Seu quadril é um pouco largo, seus seios... Nem seios você tem. – Senti a raiva me consumir. Era algo que, infelizmente, ele tinha razão e que sempre me incomodou. Meus seios eram pequenos, e eu não me encaixava no padrão de beleza italiano, com suas mulheres altas, magras, de seios fartos e pernas torneadas, com pele bronzeada e cabelos longos com mechas claras. Eu era o oposto: branca, loira e de olhos azuis, claramente puxando a família do meu pai.

Além desse filho da puta tocar em uma antiga insegurança minha, a piranha da Adina não parava de rir de suas piadas idiotas, enquanto eu me segurava ao máximo para não insultá-lo da mesma forma. 

“Meus seios são pequenos sim, assim como o seu pau, seu viadinho de merda”, pensei. Ou será que falei?

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