Angelina da Costa
Tinha sido uma semana intensa.
Fosse como secretária, como assistente, como namorada... ou até como amiga. Saulo me engolia em tantos papéis diferentes que, às vezes, eu me esquecia quem eu era sozinha. E ainda tinha Camila. Com seus conselhos afiados, com aquela voz doce que escondia o veneno de quem via mais do que eu queria mostrar.
— E o que tem? Por acaso ele tá errado em querer te fazer tentar?
Me virei na cadeira, cansada. Ela andava pela sala que conhecia melhor que eu.
— Você não entende, Camila. Eu tenho o trabalho, a casa, dois filhos... Eu mal tenho tempo pra mim.
Camila riu. Aquela risada debochada que ela usava pra desmontar meus argumentos.
Pegou um livro na estante e voltou pra mesa. Folheou sem olhar pra mim.
— Não tem porque não quer. É só uma questão de prioridade. Pelo que vi, seu filho já é um rapagão, tem o quê? Dezenove? Vinte?
— Dezessete — respondi, na defensiva.
Ela só meneou a cabeça, como se fosse irrelevante.
— Tanto faz. Se já quer bocet