Saulo Prado
O corredor parecia infinito.
Eu andava de um lado para o outro, tentando respirar no ar pesado daquele hospital. O cheiro de desinfetante queimava minhas narinas, mas a dor no peito era muito pior. O médico havia dito que Frantesca ingerira comprimidos, mas não o suficiente para estar em risco de morte. Ainda assim, aconselhou a internação. "O risco não é apenas físico, é emocional", foram as palavras dele. E eu só consegui assentir, com a garganta travada, sem forças para argumentar.
Meu domingo inteiro se perdeu ali, sentado em cadeiras duras, olhando para relógios que pareciam zombar de mim a cada segundo. Eu me sentia culpado. Desesperado. Parte de mim tinha certeza de que a culpa era minha.
Quando finalmente me deixaram entrar, meu coração batia como se fosse estourar. Sabia que não seria uma visita comum. Era um tribunal. E eu, o réu.
Ela estava acordada, pálida, mas consciente. Não me olhou quando entrei. Aquele silêncio entre nós doía mais que qualquer palavra. C