Saulo Prado
Após passar a metade do domingo comigo, Angelina desceu do carro em frente à sua casa. Estava usando a minha blusa larga nos ombros e a saia verde que, na noite anterior, era um vestido. Sorriu de leve ao me olhar, o tipo de sorriso que se prende na memória e causa ressaca no corpo. Caminhou até o portão com a elegância descuidada de quem ainda carregava a noite anterior na pele.
Me demorei nos seus passos, nos quadris soltos, na nuca à mostra, até erguer os olhos e ver ali, na janela, o ex-marido a nos observar. Raul sem camisa, braços apoiado a janela.
A sensação de entregá-la de volta àquela casa, para aquele olhar, me corroía por dentro.
Nossos olhares se cruzaram.
O dele parecia conter algum tipo de ameaça silenciosa. Raiva. Desconfiança. Ou apenas um desejo doentio de manter controle sobre algo que não lhe pertencia mais.
Logo Angelina sairia dali, eu sabia. Assumiríamos nosso relacionamento para todos. Mas até lá...
Na garagem, ela me lançou um último olhar antes d