Saulo Prado
Eu só queria ficar a sós com a Angelina.
Desde que ela se encolheu no banco do carro, com aquele olhar confuso e os lábios ainda vermelhos do selinho que escapou de mim, eu não pensava em mais nada. Só nela. No jeito como me olhou antes de sair, como se estivesse prestes a me perguntar se eu era o diabo ou só alguém pior.
Mas como sempre, meu passado e minhas sextas-feiras me cobravam.
A loira peituda, com seus saltos afiando o asfalto e aquele vestido laranja que parecia colado à pele, sentou-se ao meu lado no banco do carro. Eu nem precisava olhar muito. O perfume doce e artificial já me dizia quem era. E o tom de voz, ainda mais.
— Te liguei várias vezes, você não me atendeu. Tá me evitando? — ela disse, passando os dedos nos fios do meu cabelo, como se tivesse esse direito.
Franzi o cenho, entediado.
— Eu estava em audiência. Você costuma ficar com o celular na mão enquanto trabalha?
Ela riu, como se fosse irresistível. Não era.
— Não, benzinho. Mas fiz uma pesquisinh