Angelina Garcia
Eu não estava bem.
Não terminei a audiência bem.
Saí pela tangente. Fugi, na verdade. Não queria trocar olhares, nem agradecer, nem fingir firmeza onde só existia exaustão. Enquanto a juíza encerrava os autos e os advogados se cumprimentavam com a frieza de quem joga um jogo que eu nunca aprendi direito, eu apenas me levantei, juntei minhas coisas e deixei Saulo com Sávio. Que eles se entendessem, afinal são homens.
Fui direto pro carro. Apoie-me na porta lateral. A blusa vermelha colava nas costas. E a lingerie que eu usava por baixo aquela que comprei no domingo, rendada, provocante, absurda pra uma segunda-feira de trabalho, de afundava na minha intimidade, machucando, agora parecia uma piada de mau gosto. Não me sentia sexy, não me sentia poderosa. Só… cansada. Cansada de fingir. Eu nunca seria como Camila, e sequer imaginaria para quem ou quê, ela poria uma lingerie vermelha sexy na segunda.
Vi os dois vindo. Saulo e Sávio. Conversavam baixo, mas o jeito ríspido