Angelina Da Costa
Minha vida tinha hora pra ir, mas nunca tinha hora pra voltar.
Depois do expediente, fui direto para a consulta com a terapeuta. Falei sobre tudo, sobre mim, sobre o nada, sobre como ainda permito que Raul se aproxime como quem esquece que já foi queimado pelo fogo. Ela me ouviu e depois lançou as perguntas que mais doem:
 "Você se ama, Angelina? Por que ainda está nesse ciclo? O que quer para o seu futuro?"
Perguntas que Camila já me fazia em forma de piada, mas que na voz da terapeuta soavam como faca.
Voltei para casa no horário habitual. Ana Júlia estava na sala, maquiando uma vizinha da rua com o mesmo brilho nos olhos que eu já tive um dia. Quando recebeu os primeiros vinte reais, comemorou como se tivesse vencido o mundo.
 Eu sorri. Mesmo com o turbilhão dentro de mim, eu sorri.
Junior não tinha ido pra escola mais uma vez.
Me peguei parada na cozinha, encarando o nada, me perguntando o que fazer com meu filho. O que fazer com tudo isso.
Comecei a limpar a ca