Angelina Da Costa
O dia parecia se arrastar, mas não de um jeito calmo. Era como estar em uma maratona sem linha de chegada: reuniões, consultas, clientes novos entrando como se a porta giratória fosse um imã.
A agenda do doutor Saulo já estava estourando, e mesmo assim ele tinha dito que atenderia uma nova cliente. Eu olhava para a tela e me perguntava: onde é que vou enfiar essa mulher?
- Um momento, por favor - pedi ao telefone, segurando a paciência com dois dedos. Fui até a sala dele, com passos contidos, para não interromper se estivesse ocupado.
Estava, sempre está.
Saulo falava com um cliente, a postura inclinada para frente, voz firme e cortante. Direto, curto, sem rodeios... quase vi o senhor Otávio sentado ali. Um Prado, mesmo que criado distante. Um jeito de morder as palavras e, ao mesmo tempo, hipnotizar.
Abri a porta devagar. Ele me notou, e aquele olhar veio como um feixe de luz que me acerta no meio do peito.
- Algum problema, meu amor? - perguntou, com um tom que fa