Saulo Prado
O sábado tinha sido longo, mas produtivo. Encerramos o expediente mais tarde do que deveria, eu quase desisti da viagem. Quase.
No fundo, sabia que não se tratava apenas de levar Angelina para ver a minha mãe, era mais sobre afastá-la, nem que fosse por uns dias, de todo o peso que andava carregando. E, egoisticamente, também era sobre ter ela só para mim.
A estrada corria tranquila, o motor do carro num silêncio constante, e ela olhava para a janela como se quisesse guardar cada pedaço de céu no olhar. Eu não disse a ela, mas não pretendia contar para minha mãe que estávamos juntos. Não ainda. Mas também não via como esconder. Angelina carregava essa insegurança estampada nos ombros, como se o mundo inteiro estivesse esperando para julgá-la. Talvez alguns quilômetros de distância ajudassem.
Anoitecia, passamos por um trecho de serra e, de repente, a mata se abriu para revelar a cachoeira imensa, despencando num véu de espuma branca que refletia a luz do fim da tarde.
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