Narrado por Zeus Marino
O voo noturno pousou em Charles de Gaulle pouco depois das cinco da manhã. Paris ainda estava molhada de chuva, as luzes refletindo no asfalto como vidro quebrado. A cidade parecia orgulhosa de se mostrar eterna, mas para mim sempre foi só barulho disfarçado de beleza. Nunca gostei daqui. Paris é para quem acredita em promessas. Eu não acredito em nada que não se possa pesar ou carregar no bolso.
Mas desta vez, não vim por Paris. Vim por ela.
Léa.
E pelo que Enzo me contou: um bebê.
Peguei minha bagagem de mão e cruzei o aeroporto sem ser notado. Enzo me esperava na saída lateral, dentro de um carro preto, motor ligado, vidro fumê. Entrei sem palavra. Ele apenas estendeu um envelope grosso. Endereço, chave, algumas anotações. E a foto.
Na foto, uma janela de cortina azul clara. Dentro, a silhueta de Léa segurando algo pequeno demais para ser ignorado.
“Olhos escuros como os seus”, Enzo tinha dito. Eu não quis acreditar. Agora não era sobre acreditar. Era sobre