Narrado por Léa
O apartamento estava mergulhado num silêncio incômodo, daqueles que pesam nos ombros e tornam o ar mais denso. Eu tentava me enganar, mexendo distraída numa xícara de café frio na cozinha, como se aquele gesto pudesse me dar um pouco de normalidade. Mas nada era normal desde que Zeus Marino atravessou a minha porta. E, no fundo, eu sabia: cedo ou tarde, ele falaria algo que mudaria tudo de novo.
Não demorou.
— Em dois dias vamos para a Itália.
A voz dele cortou o espaço como uma lâmina. Eu congelei, a colher escapou dos meus dedos e bateu no pires, o som ecoando como um tiro em plena madrugada. Demorei para me virar. Quando o fiz, encontrei Zeus parado no batente da porta, braços cruzados, postura ereta, como se estivesse anunciando uma sentença que já não podia ser discutida.
— O quê? — minha voz saiu baixa, incrédula.
Os olhos dele não piscavam, firmes, frios.
— Já arrumei o voo. Eu, você e o Luc.
O choque veio como uma descarga elétrica. O coração acelerou, e senti