Narrado por Zeus Marino
Voltei da casa do Ares com o gosto da conversa amarga na boca. Ares fez o que pôde: falou com o Don, ofereceu garantias, trabalhou as rotas, costurou desculpas que pareciam abrigo. Promessas foram trocadas, papéis foram assinados, palavras sussurradas que valem menos que pólvora mas, às vezes, seguram portas. Saí de lá sabendo que tinha comprado tempo — não paz.
Quando cruzei a soleira do prédio dela, a noite já havia engolido as fachadas. A casa era pequena, luz de corredor acesa, o som de alguém embalando bebê vindo pela fresta da porta entreaberta. Entrei sem anunciar. Não gosto de surpresas, mas já que o mundo estava em combustão, improvisei a notícia como quem arruma munição.
Ela estava no sofá, Luc dormindo no colo, o cobertor enrolado como uma tábua que segura o mundo inteiro. Olhei para ela e senti a dureza do que ia dizer. Não porque fosse crueldade — era necessidade. Não se trata de escolha romântica agora; trata-se de fechar buraco antes que ele caus