Narrado por Besa
O papel que me trouxe a notícia do cancelamento do noivado queimei com as mãos por pouco tempo — não por calor, mas por pressa. O fogo era mais cerimônia do que necessidade: a mensagem precisava queimar antes que alguém se acostumasse com o cheiro da traição. Meu pai olhou, sorriu como quem aprecia boa engenharia. Havia no canto do seu olhar aquela sede calma que sempre me apavorou: quando o velho fica calmo, é porque a máquina começou a girar.
Não quis dar tempo para que o ódio se transformasse em afeto por minha impaciência. Liguei primeiro para quem importa: os homens que seguram navios, os que assinam cheques, os que gravitam no circuito do favor. Ordenei com clareza: “Amanhã, rotas em espera. Dois dias de atraso em pagamentos que normalmente são pontuais. Informação vaza como favor — contem aos nossos aliados que o noivado foi rompido unilateralmente.” Eles entenderam o quê dizer sem que eu precisasse explicitar o objetivo. O estrangulamento econômico é uma lingu