Narrado por Alonso
O mundo encolhe quando você sangra.
A estrada vibra sob os pneus, o cheiro de gasolina e pólvora empedrado no nariz, e cada quilômetro parece um empréstimo que a noite me concede com juros altíssimos. O motorista não fala. Eu também não. A bandagem no meu ombro esquenta, lateja, pede atenção. Não dou. Dor é distração. E distração mata.
Saí vivo. Outra vez. O bunker dos mexicanos virou um miolo queimado, e as vozes que me juravam lealdade hoje respiram cinza. “Marino, Marino, Marino”, ecoa no crânio como maldição. Eles vieram como sombra, cortaram luz, cortaram ar, cortaram orgulho. E eu tive que correr pela porta que eu mesmo mandei instalar para covardes. Ironia? Não. Sobrevivência.
— Falta pouco — o motorista arrisca, os olhos no retrovisor.
— Sem farol alto quando entrar — digo. — Sem barulho. Sem heroísmo.
Ele entende. Vira à direita depois da ponte, pega a estradinha de terra que só aparece quando você sabe que ela existe. O portão do galpão parece um dente que