Narrado por Apolo
Há coisas na vida que a gente não prevê.
Guerras, traições, mortes, eu sempre estive pronto. Mas nada me preparou para o instante em que ela abriu a boca e mudou tudo.
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Era uma tarde comum em Valência. O sol entrava pela janela, dourando a sala com aquela luz que parece inventada por pintor. Eu estava mexendo no mapa de contatos, tentando recalibrar rotas, porque mesmo em tempos de paz a guerra lateja. Violeta vinha andando leve, os pés descalços, o vestido solto balançando como onda mansa.
— Apolo, - ela disse, e minha pele reconheceu o tom antes do meu cérebro entender. Era diferente. Não era a voz dela pedindo café, nem pedindo carinho. Era outra coisa.
Levantei os olhos. O sorriso dela era calmo, mas escondia algo. Sentei mais ereto, instintivamente.
— O que houve? — perguntei.
Ela caminhou até mim, sentou no meu colo sem cerimônia, como faz quando quer que eu largue o mundo por um minuto. Pegou minhas mãos, colocou sobre a barriga dela. E ficou em silêncio.
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