A noite parecia mais fria do que antes, e o ar que entrava nos pulmões de Chiara era denso e cortante. O saxofone sensual do clube foi substituído pelo alarme distante de uma viatura, um som que, ironicamente, a fazia se sentir segura. Ela não sabia quanto tempo ficou parada, encostada na parede fria do corredor, o corpo em um misto de fúria e tremores. O beijo roubado no pescoço, o sussurro de Dante, a mão dele em seu rosto… Tudo se repetia em sua mente, como um filme de horror.
Ele a tocou, ele a ameaçou, e ele se divertiu. E o pior, ela sabia que ele tinha razão: ela havia gostado, mesmo que por uma fração de segundo. Aquele sentimento de posse e dominância, algo que ela nunca havia experimentado, a assustava. Ela não era uma presa. Ela era a lei. Ela era a Detetive Chiara Rossi, e não uma boneca para ser usada.
Ela se afastou do muro, o corpo ainda tenso, e caminhou para fora do clube. O frio da noite de Nova York não era nada comparado ao frio de sua alma. Ela podia sentir o olhar de Dante a seguindo, e ela sabia que ele estava se divertindo. Ele era um predador, e ela era a presa. O jogo havia começado, mas a diferença era que ele ditava as regras, e ela as aceitava.
Chiara não voltou para casa. Ela foi direto para a delegacia, o único lugar onde se sentia no controle. O prédio parecia um fantasma, as luzes de LED frias e o cheiro de café velho. A sala dela estava do mesmo jeito que a deixou. As fotos do corpo de Peter Valenti, o relatório da perícia, o arquivo de Silvano Gallo. Tudo a lembrava da humilhação que sofreu no clube.
Ela sabia que não podia seguir o caminho normal da investigação. Ela não podia ir até Dante e perguntar por que ele estava na cena do crime. Ela não podia ir até ele e perguntar por que ele a havia encurralado. Dante era intocável. A única maneira de pegá-lo era quebrando as regras.
Chiara ligou o computador e entrou no sistema da polícia. Ela tinha um acesso privilegiado, e o usou para entrar em um arquivo restrito, o da Máfia de Nova York. A pasta era um labirinto de nomes, fotos, endereços de fachada, e informações sobre as operações da família Moretti. Ela vasculhou a pasta, buscando por um nome, um endereço, uma pista que a levasse a Dante. Ela sabia que ele não estaria em um banco de dados, mas ele estaria em algum lugar.
Ela passou horas procurando, seu corpo se movendo com o ritmo de um animal caçando. Ela se sentiu viva, a adrenalina a fazendo esquecer o cansaço. Ela queria se vingar. Ela queria mostrar a Dante que ela não era uma presa, e que ele não era o predador. Ela era a lei. Ela o encurralaria, e ele não teria chance.
Seus olhos se fixaram em um nome: "O Velho Moinho". O nome era antigo, mas o endereço era recente. Era um galpão abandonado em uma área industrial, em um bairro que não era conhecido pela riqueza, mas sim pela pobreza. O nome "O Velho Moinho" era um código, um nome de fachada. A data da compra do galpão era recente, e a empresa que o comprou era uma empresa de fachada da família Moretti. Chiara sabia que havia algo de errado.
Ela se levantou da cadeira, a mente em um turbilhão. Ela sabia que não podia ligar para Mason. Ele a faria parar, a faria seguir as regras. Ela sabia que tinha que ir sozinha. Ela sabia que era perigoso, mas ela não se importava. Ela queria estar sozinha. Ela queria enfrentar Dante sozinha. Ela queria provar a si mesma que era mais forte do que ele pensava.
Ela pegou o casaco e a arma e saiu da sala. O frio da manhã era como uma bofetada em seu rosto, e a fez se sentir mais viva do que nunca. Ela entrou no carro, ligou o motor e dirigiu para o local. A viagem foi longa, e o caminho para o local foi escuro e assustador. As ruas eram desertas, as luzes de neon das lojas de conveniência piscavam, e a única coisa que ela ouvia era o som do motor do carro.
Ela estacionou o carro a alguns metros do galpão. O lugar era desolado. O galpão era velho, a porta de metal estava enferrujada, e a única luz vinha da rua. Ela saiu do carro, e o ar da manhã era denso e pesado. Ela se moveu com a graça de um animal, os olhos de lince, a mente em alerta. Ela se aproximou da porta, e a empurrou. A porta abriu com um som de ranger, e o cheiro de mofo e poeira invadiu seus sentidos.
Ela entrou no galpão. O lugar era escuro e sujo. Ela tateou a parede e encontrou um interruptor, e a luz fraca de um lampião se acendeu. Ela olhou para o local. O galpão era enorme, cheio de caixas de madeira, barris, e coisas aleatórias. Ela se aproximou das caixas, procurando por algo que a levasse a Dante.