03. O Gato e o Rato

O convite de Elena, a amiga mais antiga de Chiara, soou como um ultimato. "Se você não vier para o The Crimson Note hoje à noite, eu juro que vou te prender na sua própria casa e te forçar a ter uma vida social". A ameaça, embora dramática, tinha um fundo de verdade. Chiara estava vivendo e respirando o caso de Peter Valenti, e as pistas, ou a falta delas, estavam começando a corroer sua sanidade. Ela se pegava pensando em Silvano Gallo e, por uma estranha extensão de pensamento, nos olhos verdes do homem que o acompanhava na esquina. O "predador" que a observou da distância. Aquele olhar havia se fixado em sua mente, um lembrete constante de que o perigo não estava apenas no caso, mas naqueles que o comandavam.

Ela aceitou o convite de Elena, não apenas para fugir da rotina, mas porque a amiga, que trabalhava com arquitetura e tinha um círculo social vasto, insistiu que o clube era um dos locais mais frequentados pela elite de Nova York. E, embora não dissesse a Elena, Chiara sabia que a elite era o habitat de Dante Moretti e de seus homens. O trabalho e o prazer poderiam, de repente, se misturar em uma dança perigosa.

Chiara se arrumou sem extravagância, mas com uma elegância que a fazia se sentir pronta para a noite. Ela vestiu um vestido preto simples, de alça fina e tecido macio, que caía perfeitamente em suas curvas. O decote discreto e a fenda lateral até a coxa davam um toque de sensualidade. Ela deixou os cabelos soltos, as ondas macias caindo sobre os ombros, e usou uma maquiagem leve, apenas para acentuar os olhos. A aparência era um disfarce, mas era um disfarce que a fazia se sentir poderosa. Ela era a lei, mesmo em um vestido de gala.

Quando chegou ao The Crimson Note, sentiu a atmosfera como se fosse um corpo vivo. O local era de fato de classe alta. O clube tinha pouca iluminação e era escuro o suficiente para ser misterioso, mas tinha o brilho certo para que cada drink refletisse como um diamante. O som do saxofone misturado com o ritmo de um piano suave inundava o ar, criando uma melodia sensual e aconchegante. As pessoas se moviam devagar, conversando em voz baixa. Era um lugar para se ver e ser visto.

Elena, radiante em um vestido azul, a cumprimentou com um abraço e a arrastou para o bar.

— Viu? Eu te disse. É exatamente o que você precisava — Elena disse, o sorriso largo.

Chiara sorriu de volta, mas seus olhos estavam em alerta. Ela se misturou na multidão, observando as pessoas. Ela viu os homens de terno impecável, as mulheres com vestidos de grife, a atmosfera de poder e dinheiro. Por um momento, ela se sentiu como uma intrusa.

Até que a música parou de tocar. Um silêncio repentino e quase assustador tomou conta do local. As pessoas em volta de Chiara pararam de conversar e se viraram para o mesmo lugar: a entrada do clube. E então ele entrou.

O mundo pareceu girar devagar. Dante Moretti estava ali. Ele usava um terno de lã preto, uma camisa social da mesma cor, os botões levemente abertos para revelar a pele branca e uma corrente de ouro curta e grossa em seu pescoço. Ele era uma montanha de músculos e poder, movendo-se com a graça silenciosa de um predador. Seus olhos verdes, que Chiara conhecia tão bem, brilhavam com uma intensidade que a fez tremer de dentro para fora. Ele não sorria, mas a expressão em seu rosto era de alguém que sabia que tinha o mundo em suas mãos.

Chiara não conseguia tirar os olhos dele. Ela estava tão perdida em sua presença que nem sequer notou a presença dos homens que o acompanhavam. Ela reconheceu Silvano Gallo, o homem que havia ido depor em sua sala. Silvano estava conversando com Dante e parecia completamente à vontade. A presença de Dante era esmagadora e dominadora, e Chiara sentiu a pele queimar.

E então, os olhos verdes dele a encontraram. O silêncio que se instalou entre eles era tão denso que Chiara jurou que podia ouvi-lo. Ele não expressou nenhuma surpresa. Apenas a reconheceu. Seu olhar a percorreu de cima a baixo, um escaneamento lento e intencional. Aquele olhar dizia: "Eu sei quem você é, e sei que você não deveria estar aqui".

Ele sorriu, mas o sorriso não alcançou seus olhos. Ele levou o copo de whisky à boca, a ação de beber era um gesto lento e preciso. A mão grande de Dante, com os nós dos dedos brancos, segurava o copo. O olhar dele não saía de Chiara. Ela sentiu como se estivesse nua.

Chiara tentou se recompor. Ela se virou para Elena, tentando fingir que nada havia acontecido. Ela conversou sobre a música, sobre o ambiente, mas sua mente estava em outro lugar. Seu corpo estava tenso, cada músculo em alerta. Ela não conseguia parar de pensar que aquele homem estava a poucos metros dela. O predador e a presa estavam no mesmo ambiente, e ela não sabia quem era quem.

A noite continuou, com a música voltando a tocar e a agitação da festa retornando. Chiara tentou se distrair, mas a presença de Dante era como uma âncora invisível. Ela o observou do canto do olho, notando a forma como ele interagia com os outros. Ele não precisava falar muito; as pessoas ao seu redor faziam isso por ele. Dante era um homem que falava com olhares e gestos, e todos o entendiam.

Em certo momento, a música e a conversa se intensificaram. Elena foi para a pista de dança com um amigo, e Chiara aproveitou a oportunidade para ir ao banheiro. Ela precisava de um momento para respirar e para processar o que estava acontecendo. Ela sentiu uma necessidade de fugir e se esconder, mesmo que fosse por apenas um momento. Ela se sentiu completamente exposta, vulnerável.

No caminho para o banheiro, ela sentiu uma mão forte em seu pulso, a pressão perfeita para não machucar, mas para que ela entendesse que não podia fugir. A pele gelada dele a fez se arrepiar, e ela soube, sem precisar virar a cabeça, quem estava atrás dela.

Dante Moretti a encurralou em um canto do corredor, segurando seus pulsos acima da cabeça dela com uma única mão. Seu corpo estava pressionado contra o dela, e a respiração dele era forte e quente em seu pescoço. Ela podia sentir a força de seus músculos, o calor que irradiava de seu corpo, o cheiro de whisky e fumo que a inebriava.

— Olha só, detetive. Que grande prazer ter você aqui — ele sussurrou, a voz rouca e baixa. O tom de sua voz não denotava prazer, mas sim divertimento e escárnio.

Chiara sentiu a adrenalina em suas veias, um misto de medo e excitação que a fez tremer. Ela tentou se soltar, mas ele era mais forte, e o sorriso em seu rosto era perigoso.

— Fiquei sabendo que você está se metendo em coisas que não são da sua conta... Talvez seja mais inteligente ficar fora de tudo isso — ele disse, com um tom de aviso.

— O grande Dante Moretti, que grande honra. Eu não sabia que estava me metendo em coisas que não eram da minha conta, eu só estou fazendo o meu trabalho — ela disse, a voz firme, mas com o coração batendo forte em seu peito.

Ele riu, um som baixo e rouco. Ele abaixou a mão, mas ainda a segurou. Ele acariciou o rosto dela com a mão livre, e a pele dela se arrepiou.

— Admiro a sua determinação, detetive. Mas a sua coragem pode te custar caro. Você é tão linda, seria uma pena se algo acontecesse com você — ele sussurrou, e o tom de sua voz era de um predador que estava brincando com sua presa.

Chiara sentiu o corpo inteiro tremer. Ele era mais perigoso do que ela imaginava. Ele não era um criminoso comum, ele era um homem que gostava de poder, de dominar, e ela sabia que ele estava se divertindo.

— Me solta — ela disse, a voz cheia de ódio.

Ele olhou em seus olhos, e um sorriso de escárnio surgiu em seus lábios.

— É isso mesmo que você quer, "piccola"? — ele perguntou, o tom de voz era como se estivesse a provocando, a desafiando. Ele sabia que o que ela sentia não era só ódio. Ela não respondeu. Apenas o encarou com os olhos cheios de fúria e desejo. Ele se aproximou, e o rosto dele estava tão perto do dela que ela podia sentir a respiração dele em seu rosto.

Ele soltou as mãos dela e se afastou. Ele limpou o canto da boca com um movimento rápido e voltou a caminhar em direção ao bar, como se nada tivesse acontecido. Chiara ficou ali, encostada na parede, o corpo tremendo, o coração acelerado. Ela não sabia o que era mais assustador, a ameaça de Dante ou o desejo que ela sentia por ele.

Ela estava presa a um jogo de gato e rato, e o predador estava se divertindo. Ele não queria apenas vencer, ele queria dominar. Ela olhou para a sua mão, e sentiu o calor do toque dele. Ela sabia que aquele momento ficaria em sua memória para sempre. E, para sua própria surpresa, ela se pegou pensando em quando seria a próxima vez que ele a encurralaria, e ela se sentiu envergonhada, mas ao mesmo tempo excitada, com a ideia. "Foco Chiara, foco. Apenas faça o seu trabalho", ela tentou dispersar os pensamentos e voltar ao seu eixo depois do ocorrido.

Sigue leyendo este libro gratis
Escanea el código para descargar la APP
Explora y lee buenas novelas sin costo
Miles de novelas gratis en BueNovela. ¡Descarga y lee en cualquier momento!
Lee libros gratis en la app
Escanea el código para leer en la APP