A água escaldante do chuveiro não conseguiu lavar a sujeira que eu sentia grudada na minha alma. A imagem dos meus dedos ao redor do pescoço de Ryan, o olhar de resignação dele, a fúria cega que me consumira—tudo isso rodopiava no vapor, um ciclo interminável de vergonha e terror. Eu me esfreguei até a pele ficar vermelha e dolorida, mas a mancha era interna, profunda.
Vestindo um roupão, desci silenciosamente para buscar uma xícara de chá que sabia que não traria conforto algum. Foi quando o vi. Parado na biblioteca, a porta entreaberta, o celular pressionado contra o ouvido. Sua expressão era uma máscara de angústia e conflito, iluminada pela tela azulada. Ele estava falando com alguém. Com o mundo dele. O mundo real.Uma pontada de algo — ciúme? traição? —atravessou-me, mas foi rapidamente sufocada por um cansaço tão profundo que quase me derrubou. Eu não tinha energia para outra cena. Não tinha coragem para ouvir outra mentira, ou para exigir outra verdade que