Capítulo 6

O som do motor era um mantra, e os olhos dela, refletidos pelo retrovisor, me tiravam o sossego. Cada vez que Helena me olhava em silêncio, algo dentro de mim estremecia. Não era apenas desejo – era uma sensação de reconhecimento. Como se minha alma já conhecesse a dela de outra vida.

Hoje ela me pediu que a levasse para a casa de campo da família. Sozinha. Sem equipe, sem aviso prévio. Apenas ela e eu. O silêncio no carro estava cheio de coisas não ditas, e o ar entre nós era denso como neblina.

A estrada serpenteava pelas colinas verdes e, ao longe, as árvores dançavam com o vento. Meu peito pesava. Desde ontem, venho tendo flashes... breves, como lampejos.

Vi um piano branco. Um menino loiro tocava nele. Uma mulher chorava. Depois, uma voz masculina gritando meu nome – "Henrique! Henrique!"

— Henry? — a voz de Helena quebrou meu devaneio.

— Sim, senhora?

Ela mordeu o lábio, nervosa. — Pode parar aqui, por favor. Quero respirar um pouco.

Estacionei. Ela desceu e caminhou até a beira
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