O som do motor era um mantra, e os olhos dela, refletidos pelo retrovisor, me tiravam o sossego. Cada vez que Helena me olhava em silêncio, algo dentro de mim estremecia. Não era apenas desejo – era uma sensação de reconhecimento. Como se minha alma já conhecesse a dela de outra vida.
Hoje ela me pediu que a levasse para a casa de campo da família. Sozinha. Sem equipe, sem aviso prévio. Apenas ela e eu. O silêncio no carro estava cheio de coisas não ditas, e o ar entre nós era denso como neblina.
A estrada serpenteava pelas colinas verdes e, ao longe, as árvores dançavam com o vento. Meu peito pesava. Desde ontem, venho tendo flashes... breves, como lampejos.
Vi um piano branco. Um menino loiro tocava nele. Uma mulher chorava. Depois, uma voz masculina gritando meu nome – "Henrique! Henrique!"
— Henry? — a voz de Helena quebrou meu devaneio.
— Sim, senhora?
Ela mordeu o lábio, nervosa. — Pode parar aqui, por favor. Quero respirar um pouco.
Estacionei. Ela desceu e caminhou até a beira