Helena
O silêncio da madrugada me abraçava como um véu pesado e incômodo. A casa estava mergulhada em sombras, mas meu coração não sossegava. Desde que Leonardo voltou de viagem, mais controlador e perspicaz do que nunca, eu me sentia vigiada — como se ele desconfiasse que havia algo em meu peito que já não lhe pertencia.
E ele tinha razão. Não pertencia mesmo.
Estava com Henry. Ou melhor, estava completamente dele. Mesmo que ainda não tivéssemos nos entregado por completo, cada toque, cada olhar, cada palavra trocada em segredo era mais íntima do que qualquer coisa que já vivi com Leonardo. E isso doía mais do que eu podia suportar.
Desci até a cozinha em busca de água, mas assim que acendi a luz, dei de cara com ele. Henry. Sentado à mesa, com os olhos baixos e a camisa branca desabotoada até o meio do peito. Havia uma tensão visível entre suas sobrancelhas, uma inquietação que me atingiu como um choque.
— Não consegui dormir — ele murmurou, a voz baixa e grave, como se temesse ser