O silêncio da casa era cortado apenas pelo tique-taque do relógio antigo da sala. A madrugada havia mergulhado o casarão numa penumbra misteriosa, e mesmo assim meu corpo ardia em chamas. Ainda sentia o gosto amargo da culpa na boca, misturado com o perfume masculino que impregnava minha pele: o de Leonardo.
Levantei da cama nua, com as pernas trêmulas, o estômago revirado. Eu me odiei por ter cedido à bebida e ao toque dele, mesmo sabendo que meu coração já não lhe pertencia. Olhei para o espelho: meus olhos estavam vermelhos, minhas bochechas coradas, e havia marcas no meu pescoço que não foram feitas com carinho, mas com domínio.
Desci as escadas pé ante pé, vestindo apenas um robe de seda que mal cobria minhas coxas. Meus pensamentos estavam um caos. Eu precisava respirar. Precisava me encontrar.
Quando alcancei a varanda dos fundos, fui surpreendida por Henry, de pé, com o rosto virado para o céu estrelado, os braços cruzados e o maxilar tenso.
— Você ainda está acordado? — pergu