MARIA AMARAL
O carro para em frente a um prédio muito alto e imponente. Fico tanto tempo olhando a entrada que tenho um leve sobressalto quando o motorista abre a porta.
Saio e acompanho o Seven para dentro do local, tentando ao máximo não olhar para as pessoas. Por dois motivos, vergonha de estar aqui como uma acompanhante e pelo fato de estar suja e fedendo a lixo.
Muita coisa aconteceu essa noite, inclusive um homem morrer na minha frente. Mas eu não me abalo mais com mortes, não é o primeiro que vejo morrer.
Quando saímos daquele beco, o Seven deixou o cadáver lá para que a polícia encontrasse e fizesse seu trabalho. Ele tinha certeza que Amber jamais o denunciaria e que ali não tinha câmeras de segurança. O ouvi falando com alguém pelo celular no carro, ordenando que sumisse com qualquer vestígio de nossa passagem por ali.
Deve ser muito bom ter esse tipo de poder.
No elevador, não conversamos. Fico imaginando se ele vai até o último andar, para se mostrar acima dos outros, como nos romances que ouço falar. É quando paramos em um dos andares do meio. Parece que ele não é esse tipo.
O sigo pelos corredores de paredes brancas e cinzas, até uma porta preta grande, que ele abre através de um aparelho como nos filmes de espionagem, usando seus lindos olhos cinza.
Dentro do lugar é espetacular. Tons neutros e escuros predominam nos móveis e alguns quadros na parede. O sofá é bem grande, cinza, e parece ser confortável. Meus pés querem me levar até lá, mas fico parada, observando tudo. Com medo de tocar e sujar, e também uma leve pontada de ciúme sem sentido.
Esse lugar não é o famoso castelo dos Seven.
— É aqui que traz as mulheres? — quando vi já tinha perguntado. Hoje eu estou agindo muito sem pensar. Logo hoje. Droga!
Antes que eu possa me desculpar por ser intrometida, ele responde.
— Não. As levo a motéis. Você é a primeira mulher a entrar aqui, na verdade é a primeira pessoa além de mim e meu segurança. Esse é o meu refúgio.
O vejo caminhar até a janela e observar a vista.
— Então, por que me trouxe aqui? — novamente falo antes de pensar.
Ele dá de ombros. Não responde. Ficamos em um silêncio incomodo por mais de um minuto.
— Nós vamos... hum.. transar? — Eu já desisti de seguir a linha de sedução. Acabo de descobrir que não sei seduzir.
Ele me olha dos pés até a cabeça, posso ver desconfiança em seu olhar.
— Quantos anos você tem? O jeito que fala demonstra ingenuidade para alguém da Casa.
Finjo arrumar o vestido para ele não me ver engolindo em seco ou notar a mentira no meu rosto.
— Vinte e um, por que?
— Não fodo menores de dezenove anos. Isso é quase a idade do meu caçula. É o meu limite.
— Então quer dizer que vamos.
Meus olhos seguem o movimento dele abrindo os botões da camisa e expondo o peito musculoso e com poucos pelos aparados. É perfeito. Como aqueles modelos de imagens usadas em capas de livros que romantizam mafiosos.
— Primeiro vamos definir os termos e os valores... ai veremos. — Sigo seu corpo nu da cintura para cima indo até um pequeno bar e servindo uma bebida de cor âmbar. — Quer beber alguma coisa?
Balanço a cabeça de forma negativa. Estamos aqui sozinhos. Ele é muito mais forte e sei que tem armas. Se esse homem quiser fazer algo comigo, nublar minha mente com álcool só vai facilitar.
Vejo sua sobrancelha erguer, ele largar o copo e se aproximar.
Sem perceber dou um passo atrás, mas não rápido o bastante. Sinto seus dedos segurando meus braços pelos cotovelos. Abaixo a cabeça, detestando esse gesto de submissão e medo que vem automaticamente. Apesar da minha determinação, eu nunca estive com um homem depois do pesadelo que vivi. O medo dança em minha pele.
Ele segura o meu queixo tão suavemente que não resisto quando me faz encarar seus lindos olhos cinza.
— Você não está pronta para isso. Mandarei meu motorista te levar em casa.
Minha pele sente falta do toque quando seus dedos se afastam. Devo estar enlouquecendo mesmo. Eu não estou sabendo como agir. Simplesmente porque não esperava tanta delicadeza ou gentileza.
Se recupere, Maria! Essa a sua chance, porra! Se sair daqui nunca mais vai conseguir chegar tão perto de conseguir a proteção que João e você precisam.
Escuto minha razão e respiro fundo.
— Quero que...
— Eu já sei o meu preço. — O interrompo quando ele fala ao celular. O vejo parar de falar e me encarar com a sobrancelha erguida. — É a minha primeira vez com um cliente da Casa. Só estou ridiculamente agindo como uma principiante. Pode me dar uma chance?
— Você claramente não nasceu para isso.
— Ninguém nasce. Mas claramente eu tirei a sorte grande por ser você. Poderia ser um cara imenso ou fedorento, ou violento... Acredite, já passei por todos esses. É a minha primeira vez naquela casa, mas não é a minha primeira vez sendo usada. Talvez eu só não saiba agir direito quando a pessoa do outro lado demonstra preocupação — desabafo sem perceber. Quando me dou conta já falei.