AMAYMON SEVEN
— Para casa, senhor? — o motorista pergunta quando entro no carro.
— Espere — respondo.
Tento me acomodar no banco, nem chego a colocar o cinto. Penso um pouco. Indeciso sobre o que fazer. Confesso que um pouco preocupado com aquela garota desajeitada e linda como um doce suculento. Aquela Amber não tem jeito de quem aceita bem uma concorrência. Além do que... não serei hipócrita, a pequena me atraiu como nenhuma outra ali jamais o fez. Seu jeitinho sincero, meio desajeitado e ousado me chamou a atenção.
— Merda! — resmungo e saio do carro sem dar nenhuma explicação ao meu funcionário.
Caminho até o beco nos fundos do estabelecimento. Sei que não vou ficar satisfeito se não levar aquela menina comigo. Mas não quero que me vejam voltando. Entrarei pelos fundos e mandarei que busquem ela para mim. Quando estiver com a pequena diante de mim decido o que fazer, para onde a levar.
Estou distraído pensando em como seria seu corpo pequeno e delicado nu, quando ouço o som de latas de lixo caindo.
Direciono meu olhar para frente e vejo a cena. Um homem indo em direção a pequena desastrada que está caída nas latas enquanto Amber assisti com um sorriso vitorioso no rosto. A garota parece em choque. Não reage quando o cara segura seus lindos cabelos escuros e diz alguma coisa para ela.
São suas últimas palavras. Não penso duas vezes antes de puxar a arma silenciosa que carrego sempre e atirar em sua cabeça. O corpo cai sobre o chão sujo como o lixo que é.
Me aproximo da garota, que mesmo suja de lixo e sangue do cara morto, além de descabelada, permanece linda. Seus olhos estão vidrados e respingos de sangue do defunto pintam seu rosto delicado.
Abaixo na sua frente.
— Está tudo bem? — pergunto, sem ter respostas por vários segundos. — Meu doce, diga algo.
Finalmente tenho sua atenção. Ela encara meus olhos, parece perdida em si mesma.
— Não sou doce — ela diz de repente, me fazendo rir. — Isso é sua culpa. Eu disse que ela iria se vingar. — Sua voz sai tremula.
— Aquela mulher fez isso? — olho para onde Amber estava, ela fugiu quando atirei. Sorte dela, ou estaria com uma bala na cabeça também.
Ela segue meu olhar e suspira.
— Deixa pra lá. Só preciso ir para casa, tomar um banho, dormir e esquecer tudo isso. Não sirvo para nada do que me propus.
— E o que se propôs? — questiono com curiosidade.
— Seduzir você. — Sua resposta me surpreende. — Pra que mentir? Já deu tudo errado mesmo. Foda-se. Dama de vermelho fatal uma ova. Desastre de vermelho. — O jeito meigo e irritado como ela fala como se eu não estivesse ali me faz rir, muito, como há tempos não faço. Isso a deixa mais irritada. — Para de rir. Eu nunca fui desastrada. Isso também é culpa sua.
— Deve ter perdido a cabeça quando me viu — digo, convencido.
— Grande chance — resmunga.
— É sempre tão sincera? — falo, controlando o riso.
— Quando o terreno não é perigoso.
— Acha que não sou perigoso? — Levanto a sobrancelha. Há tempos uma pessoa não se atreve a sequer cogitar que não sou perigoso.
— É o tipo de perigo que preciso. O tipo de perigo que queria ter nas mãos, mas parece que sou fraca e desastrada demais para isso.
Então é isso. Ela quer o meu poder.
Me levanto e estendo a mão para ela.
— Você é bem estranha.
— Me leva para sua casa — diz séria, segurando minha mão e levantando. Novamente suas palavras me surpreendem.
— Não levo ninguém para minha casa.
— Você entendeu... — Ela olha para o próprio corpo, depois cheira as mãos, fazendo uma careta. — Esquece. Que vergonha! Que mico! Eu vou embora. — As últimas palavras ela murmura enquanto se vira e começa a andar apressada.
— Espere, menina! — Como resposta, ela balança a cabeça de um lado para o outro, negando, e continua andando. — Eu ordenei que pare. — Aumento o tom, da mesma forma que faço para aplacar as discursões dos meus filhos.
Isso faz com que ela pare e se vire na minha direção.
— Você não manda em mim, senhor Seven. Precisa pagar para mandar em mim. É assim que funciona.
— Nem se eu disser que vou te levar para a minha casa? — Jogo a isca.
Ela abre um sorriso. Como se essa fala fosse a melhor coisa que ouviu na vida. Não sei bem por que estou aqui gastando meu tempo com essa pequena, mas algo me prende. É como se a possibilidade de não voltar a vê-la seja incabível. Não me sinto assim desde... Ah, nem quero pensar nisso. Aposto que será um desejo passageiro, como todas depois da minha Leah. Vamos acabar com isso.
Com poucos passos, ultrapasso ela.
— Me siga — ordeno. Ela me segue.
O motorista não fala nada quando me aproximo com ela, apenas sai do carro e abre a porta para a garota. Não espero que ele abra para mim, vou logo para o outro lado. Ele não é bem meu motorista. É meu segurança particular e secretário. É o único que me acompanha quando venho a esse lugar.
Posso sentir seu olhar nos queimando pelo retrovisor. Aposto que não esperava que a escolhida da noite fosse essa menina suja, que, a propósito, está quieta, quase colada na janela, olhando as próprias mãos sobre o colo.
— Ele te machucou?
— Não — responde baixo. — Só minha cabeça dói um pouco por causa do puxão, mas não é nada. A cabeça dele está bem pior. — Noto um certo deboche em relação ao morto.
— Te incomoda por ver um homem morrer?
— Nem é o primeiro. Homens como ele merecem a morte. Só lamento que tenha sido rápido.
— Desculpe por isso. Se soubesse teria torturado ele para você. — Ela me olha. Finalmente um sorriso. Pequeno, mas já é algo para quem parecia em choque poucos instantes atrás. — Quer um pouco de água? — ela nega. — Medo de boa noite Cinderela? — ela confirma. É minha vez de rir. — Está no meu carro e nem sabe onde está indo. Devia ter medo disso.
— Uma coisa não tem nada a ver com a outra.
— Você é estranha demais, meu doce.
Ela dá de ombros. O resto do caminho vamos em silêncio.