Capítulo 2

MARIA AMARAL

Dias depois.

Um vestido vermelho colado ao meu corpo, com apenas uma alça adornada de pedrarias, um pouco acima do joelho. Um sapato enfeitado com as mesmas pedrarias, nada confortável. É assim que estou na frente do espelho na casa de Candy.

— Ande um pouco para se acostumar. Não vai querer passar vergonha entre milionários e bilionários... e talvez um certo trilionário. — Candy fala enquanto passa um batom escuro nos lábios, que estranhamente combina com seu vestido curtíssimo lilás.

Faço o que ela pede, dou algumas voltas cambaleantes pelo quarto, mas logo me acostumo. Meus pés doem no sapato, e eu ignoro.

Quando ela está satisfeita, chama um motorista de aplicativo e somos levadas a Casa dos Sonhos. Um local onde homens e mulheres buscam prazer em corpos que se dispõem a serem comprados por uma noite.

Meu objetivo ali é apenas um: Amaymon Seven. Por tudo que ouvi falar desde que cheguei ao morro, ele é a pessoa que tem o poder para nos proteger e livrar meu irmão das dívidas com o dono do morro, dividas que ele adquiriu para me salvar, para ter a cabeça daquela bruxa. Talvez seja muita pretensão para uma garota quebrada de dezessete anos, mas eu quero tentar. Preciso fazer algo para compensar os sacrifícios do meu irmão. Esses anos de merda me tiraram a alma, e dele tiraram o coração. Ter que cumprir as ordens de Jafar o destrói. Aquele homem desumano ordena mortes injustas e torturas desnecessárias. E João tem que cumprir, pela dívida que adquiriu para me salvar. Ele me tirou de uma prisão, entrando em uma.

Respiro fundo, afastando os pensamentos. Eu vou conseguir. Preciso conseguir. Conquistar esse Seven vai salvar o meu irmão. Esta noite preciso ser uma mulher fatal e conquistar esse homem.

— Vamos! — digo decidida.

*

Com minha identidade falsa na bolsa e muita determinação, passo pelas portas imensas do salão. Alguns olhares se viram em nossa direção. Mas infelizmente nenhum é o dele. Ele não está aqui. Pelo menos não visível, talvez possa estar em um dos quartos do segundo andar, com alguém. Isso seria péssimo para os meus planos.

Coloco um sorriso no rosto e sigo Candy, que me apresenta a várias pessoas.

Em menos de trinta minutos, recebo cinco convites para o quarto vip. Eu sou a novidade aqui. Alguns clientes nada sutis, foram logo perguntando meu preço. Apenas sorri e recusei, alegando ser meu primeiro dia e que queria conhecer um pouco mais do lugar.

Estava quase desistindo dos meus planos quando os olhares foram para a porta de entrada. Lá estava ele, sozinho. Diferente dos homens de terno e gravata que desfilavam, ele se vestia com uma camisa preta que deixava parte de uma tatuagem em seu braço a mostra, e um jeans surrado claro. Nos pés um sapato preto, e para completar o visual, lindos olhos cinza, cabelos curtos grisalhos e barba também.

Se eu sentisse atração por alguém seria por ele. Lindo de doer os olhos. O homem se vestia de acordo com o clima atual da cidade, não com sua conta bancaria.

Antes que eu possa me aproximar, uma loira sorridente gruda em seu braço. Ela também está com um vestido vermelho, porém longo, com decote e fendas enormes.

— Não te falei. — Candy me cutuca, como se contasse uma fofoca. — Ela é fixa dele. Teve outra antes dela, mas ficou emocionada e perdeu a vaga.

— Nada de desistir — digo para mim mesma, mantendo a postura.

— Qual o plano? — dou de ombros apenas. — Você veio sem um plano? — pergunta horrorizada.

Lembro do homem que peguei na praia com Branca.[1] Um dos Seven. Qualquer coisa uso a localização do filho desse homem como meio de me aproximar, mas só em último caso. Não quero atrapalhar Branca e seu romance. Era para eu ter vindo aqui naquele dia, mas desisti quando cheguei em casa e encontrei meu irmão ferido de mais um de seus trabalhos. Nada grave, mas optei por cuidar dele. O que foi bom, pois consegui descobrir que minha amiga tinha um Seven “prisioneiro” antes de estar aqui, diante do homem que preciso conquistar.

— Vou ao toalhete — murmuro.

Sem esperar resposta, me afasto da mesa de bebidas, onde estava com Candy. Fico no banheiro alguns minutos pensando e sem chegar a nenhuma conclusão de como me aproximar dele sem procurar briga com a loira fixa. Quando saio, vejo o Seven sozinho perto da mesa de bebidas. Não perco tempo, vou logo me aproximando. É a minha chance.

Talvez eu tenha ido rápido demais, porque quando chego um pouco perto dele, meu pé vira na sandália desconfortável, que quebra as malditas correias finas, me fazendo perder o equilíbrio.

Fecho os olhos ao sentir a queda... o chão se aproximando... Mas não vem. Demoro tanto para entender que estou nos braços do homem que ele ri.

— Tudo bem, meu doce?

— Hum? — murmuro meio desnorteada, me sentindo uma criança que ainda não aprendeu andar. — Sinto mu... — nem consigo completar o pedido de desculpas, sou literalmente arrancada dos braços do homem lindo e cheiroso que me amparou. E por causa do sapato quebrado, caio de bunda no chão.

[1] Referência ao livro anterior.

Continue lendo este livro gratuitamente
Digitalize o código para baixar o App
Explore e leia boas novelas gratuitamente
Acesso gratuito a um vasto número de boas novelas no aplicativo BueNovela. Baixe os livros que você gosta e leia em qualquer lugar e a qualquer hora.
Leia livros gratuitamente no aplicativo
Digitalize o código para ler no App