O tempo passou como um sussurro do vento.
 Os primeiros meses de casamento não foram fáceis para Aurora. Damon ainda era distante, frio, e evitava qualquer proximidade emocional com ela. Ele a tratava com respeito, mas não havia amor em seu olhar. Mesmo assim, Aurora manteve-se firme, pois acreditava que um dia ele entenderia que estavam destinados um ao outro.
 E então, uma manhã, tudo mudou.
 Aurora sentiu algo diferente. Seu corpo estava mais quente do que o normal, e havia uma energia vibrante pulsando dentro dela. Um brilho, um calor, uma força que ela nunca havia experimentado antes.
 Foi então que ela percebeu.
 Ela estava grávida.
 O coração de Aurora acelerou, e um sorriso imenso se formou em seus lábios. Um filho. O filho do Alpha. O herdeiro da alcateia.
 Sem hesitar, ela correu para encontrar Damon.
 O sol já estava alto quando ela o encontrou perto do salão principal da aldeia, cercado por outros lobos guerreiros. Ele estava sério, como sempre, discutindo alguma estratégia. Mas ao vê-la se aproximar com aquele brilho nos olhos, ele franziu a testa.
 — Aurora? O que foi?
 Ela parou diante dele, com as mãos no ventre e os olhos brilhando.
 — Eu… eu tenho algo para te contar.
 Os outros lobos pararam de falar, atentos à sua excitação.
 — Estou esperando um filho, Damon.
 Um silêncio tomou conta do lugar. O olhar de Damon ficou fixo nela, como se não tivesse certeza se tinha ouvido direito.
 — O quê?
 — Estou grávida! Nós vamos ter um filho!
 O silêncio durou apenas um segundo antes de ser quebrado por um rugido coletivo de comemoração. Os lobos uivaram, batendo nos ombros de Damon em celebração. A notícia se espalhou pela aldeia em um piscar de olhos, e logo todos estavam celebrando a chegada do herdeiro do Alpha.
 Damon, no entanto, permaneceu imóvel, apenas encarando Aurora.
 Ela não se importou com a frieza dele naquele momento. Era o dia mais feliz de sua vida.
 Mas alguém não compartilhava daquela felicidade.
 Agnes.
 A porta da cabana se abriu com violência, e Agnes entrou com os olhos faiscando de fúria.
 — NÃO! — Ela gritou, sua respiração acelerada. — Isso não pode estar acontecendo!
 A alegria de Aurora foi interrompida. Ela olhou para a irmã, confusa.
 — Agnes… o que está acontecendo?
 Agnes não respondeu. Apenas virou as costas e saiu correndo.
 Aurora hesitou por um momento, mas seu instinto a fez segui-la.
 Ela a encontrou na casa de sua mãe.
 — Mãe! — Aurora entrou com um sorriso nos lábios. — Você não vai acreditar! Estou esperando um bebê!
 A mãe delas arregalou os olhos e, por um instante, ficou em choque antes de soltar uma risada emocionada e abraçá-la.
 — Minha filha! — Ela tocou o ventre de Aurora com carinho. — O herdeiro do Alpha… que benção!
 Mas o momento foi arruinado quando Agnes deu um passo para frente, seus olhos carregados de ódio.
 — Esse filho tem que morrer.
 O sorriso de Aurora desapareceu no mesmo instante.
 — O quê? — Ela deu um passo para trás, como se não tivesse ouvido direito.
 — Você está louca? — A mãe delas olhou para Agnes com incredulidade.
 — Esse filho não pode nascer! — Agnes gritou, sua voz tremendo de raiva. — Esse bebê é a prova viva de que a Lua me traiu!
 Aurora olhou para a irmã com horror.
 — Agnes… do que você está falando?
 — Eu deveria estar no seu lugar! — Agnes cuspiu as palavras, seus olhos brilhando com uma fúria insana. — Damon me escolheu primeiro! Ele me amava! Ele e eu já tínhamos um relacionamento há tempos! Só estávamos esperando a Lua nos unir! Mas a maldita Lua escolheu você!
 Aurora sentiu o chão sumir sob seus pés.
 — Você… você tinha um caso com Damon?
 Sua mãe ficou pálida, olhando para Agnes como se nunca a tivesse visto antes.
 — Você se envolveu com o Alpha da aldeia mesmo sabendo que ele teria uma Luna escolhida? — Sua voz estava tomada por decepção.
 Agnes apertou os punhos.
 — Eu nunca acreditei nessas superstições idiotas! Eu e Damon estaríamos juntos se não fosse essa maldita tradição!
 A mãe delas respirou fundo antes de dar um tapa forte no rosto de Agnes.
 O som ecoou pela cabana.
 — Você vai se colocar no seu lugar! — A voz da mãe delas saiu firme, cheia de autoridade. — Aurora foi escolhida para guiar essa aldeia! Ela é a única Luna que teremos!
 Agnes segurou o rosto, os olhos brilhando com ódio e humilhação.
 — Eu nunca vou aceitar isso.
 Ela se virou e saiu correndo da cabana, deixando um silêncio pesado para trás.
 Aurora ficou parada, sentindo seu coração martelar contra o peito. Nunca imaginou que sua própria irmã seria sua maior inimiga.
 Sua mãe segurou suas mãos e olhou em seus olhos.
 — Você precisa tomar cuidado.
 — Mãe…
 — Agnes está cega pelo ódio. E uma mulher com raiva pode ser perigosa. Mas uma mulher com um lobo… pode ser mortal.
 Aurora respirou fundo, tentando processar tudo.
 — Eu nunca quis isso, mãe.
 A mulher acariciou seu rosto.
 — Não se pode discutir com as escolhas da Lua. Agnes terá que aceitar isso… ou enfrentará as consequências.
 Aurora olhou para a porta por onde a irmã havia saído.
 Algo dentro dela dizia que Agnes jamais aceitaria.