A Pele da Mentira
A noite seguinte ao atentado no santuário foi longa.
O espelho da lua partido refletia algo mais profundo: a confiança estilhaçada.
Acordei com o cheiro do incenso das sacerdotisas invadindo a torre.
Maelis havia mandado limpar o templo, mas os símbolos riscados ainda estavam queimados em minha mente.
“Ela é nossa.”
Aquelas palavras não eram apenas ameaça.
Eram uma afirmação — de posse, de pertencimento, de dominação.
E eu não pertencia a ninguém.
Nem à lua, nem ao desejo de Kael, nem à memória de Rafael.
Eu era minha.
E por isso… meu corpo começou a reagir.
No banho ritual que seguiu o amanhecer, algo despertou.
Quando a água fria tocou minha nuca, senti um choque.
Não físico.
Foi uma memória que não era minha.
Vi a criada que me ajudava… ajoelhada diante de Sorren, chorando.
Implorando perdão.
Ela havia falado demais.
Contado algo.
Traído sem querer.
E ele… a havia marcado.
Não com garras, mas com medo.
Abri os olhos, ofegante.
A criada me olhou, assustada.
— Senho