A Verdade Ardida em Pele
Decidi começar pela madrugada.
O silĂȘncio era o Ășnico aliado verdadeiro que me restava.
Desci atĂ© o templo interno, onde o espelho partido ainda jazia como sĂmbolo da ruptura.
A lua cheia filtrava-se por entre os vitrais e pintava o chĂŁo com uma luz de prata lĂquida.
Ali, convoquei os quatro.
Um por um.
Rafael chegou primeiro.
Vestia o vermelho profundo dos Supremos, mas seu olhar era sĂł sombra.
â Sabia que me chamaria primeiro â disse, sem arrogĂąncia.
â Porque nĂŁo tenho medo de vocĂȘ?
â Ou porque tem medo do que sou.
Me aproximei devagar, meus dedos trĂȘmulos.
â VocĂȘ me permite?
Ele assentiu com um movimento sutil.
Toquei o dorso de sua mĂŁo.
O calor se espalhou imediatamente.
E então⊠vi.
Um beijo.
Em minha mĂŁe.
Anos atrĂĄs.
Antes dela morrer.
Ela chorava.
Ele prometia protegĂȘ-la.
Mas tambĂ©m dizia: âSe a filha carregar o mesmo dom, serĂĄ uma ameaça ao equilĂbrio. Se necessĂĄrio⊠vou impedir que ela desperte.â
O calor queimou.
Afastei minha mĂŁo, arfando.
â VocĂȘ⊠pl