Amélia conheceu a solidão cedo demais. Órfã desde a infância, encontrou refúgio na floresta, aprendendo a sobreviver com instintos aguçados e um coração endurecido pelo abandono. Durante anos, a mata foi seu lar – até que Damian a encontrou. Filho do alfa mais temido e cruel que já existiu, Damian deveria enxergar Amélia como nada além de uma intrusa. Mas no instante em que seus olhos se encontraram, ele sentiu a conexão inconfundível: ela era sua companheira. O problema? Amélia ainda não tinha idade para reconhecer esse laço. Levando-a para sua casa, Damian acreditava que poderia apenas protegê-la à distância, aguardando o momento certo. Mas a presença dela em sua alcateia desperta perigos ocultos e segredos há muito enterrados. Criada longe das leis dos lobos, Amélia não se curva facilmente, desafiando até mesmo o alfa cruel que governa com punho de ferro. Agora, com inimigos à espreita e um destino maior do que imaginam, Damian e Amélia precisam descobrir até onde irão para proteger um ao outro – e se o vínculo que os une será sua força ou sua ruína. Uma história de sobrevivência, segredos e um amor que desafia o tempo.
Leer másAntiope era uma vila cercada por colinas ondulantes e bosques de carvalhos tão antigos quanto o próprio tempo. As casas de pedra, cobertas de trepadeiras floridas, pareciam emanar um calor acolhedor, mas sob essa aparente tranquilidade escondia-se um medo enraizado. O nome do Alfa ressoava como um trovão nas conversas sussurradas. Ele governava não apenas a vila, mas também os corações de seus habitantes, que andavam sempre com olhares baixos e passos apressados, como se até mesmo o vento pudesse levar suas palavras para ouvidos errados.
No meio dessa realidade opressora, vivia Amélia. Desde muito jovem, a vida lhe ensinara a sobreviver com pouco. Seus pais foram arrancados dela antes mesmo que tivesse idade para compreender a dor da perda. A memória deles era um borrão distante, fragmentos de vozes e risadas que às vezes vinham nos sonhos, apenas para desaparecer ao amanhecer. A vila, que deveria ter sido seu lar, virou um lugar onde não havia espaço para uma órfã. Sem ninguém que a quisesse, fugiu para a floresta, onde aprendeu a decifrar os sussurros do vento e a se esconder melhor do que qualquer presa. No início, foi um inferno. As noites eram longas e gélidas, e o estômago vazio se tornou um companheiro constante. Chorava baixinho, temendo que qualquer som denunciasse sua presença a predadores — humanos ou não. Mas, com o tempo, o medo deu lugar à adaptação. Aprendeu a ouvir o canto dos pássaros para prever a aproximação de estranhos, a distinguir frutas comestíveis das venenosas, a construir refúgios entre raízes e galhos caídos. A natureza se tornou sua professora, sua aliada e, em muitos momentos, sua única amiga. Mas a solidão era um monstro faminto. A ausência de vozes, de toques, de qualquer laço que a ligasse a outro ser humano consumia seus dias pouco a pouco. Havia momentos em que se perguntava se ainda sabia falar ou se sua voz havia sido engolida pelo silêncio da mata. A vida era uma batalha constante entre o desejo de permanecer escondida e a necessidade de algo mais. Foi então que tudo mudou. Naquela manhã, enquanto colhia frutas silvestres perto do rio, sentiu um cheiro diferente no ar. Madeira queimada. Sangue. Passos pesados quebrando galhos. Um aviso de perigo. O instinto, lapidado pela sobrevivência, fez seu corpo reagir antes mesmo que a mente compreendesse. Amélia se encolheu atrás das árvores, espiando por entre as folhas com o coração martelando contra as costelas. Foi então que o viu. Um homem de postura imponente, cabelos escuros como a noite sem estrelas e olhos de âmbar. Sua presença era sufocante, como uma tempestade prestes a desabar. Ele não era um caçador qualquer. Seu cheiro era forte demais, poderoso demais. Um lobo. O filho do Alfa. Seu nome era Damian. Ele se movia com uma graça predatória, como se cada passo fosse calculado. Os outros lobos atrás dele mantinham-se um pouco afastados, esperando ordens, mas era claro que ele era o líder ali. Amélia percebeu que prender a respiração não a tornaria invisível, mas não conseguiu evitar. Algo nele a assustava mais do que qualquer animal que já encontrara na floresta. Então, como se o próprio vento tivesse sussurrado seu esconderijo, a voz dele cortou o silêncio: — Sei que está aí. Amélia congelou. — Se quisesse te ferir, já teria feito. As palavras foram calmas, mas carregavam um peso que fez a espinha dela se arrepiar. Seu corpo gritava para correr, mas seu instinto dizia que seria inútil. Ele a encontraria, não importava o quanto tentasse fugir. Então, respirando fundo, saiu das sombras. Seus olhos castanhos encontraram os dele, e por um momento, um estranho silêncio pairou entre eles. Não era apenas medo que a fazia hesitar — havia algo na maneira como ele a olhava. Como se a estivesse reconhecendo. Damian inclinou a cabeça levemente, observando cada detalhe de sua aparência desgastada pela vida na floresta. A sujeira no rosto, os cabelos desalinhados, a roupa esfarrapada. Mas não era pena que brilhava em seus olhos dourados. Era algo mais profundo. — Há quanto tempo está sozinha? — perguntou. Sua voz não era rude, nem impaciente. Havia curiosidade ali, um interesse que Amélia não conseguia entender. Ela não respondeu. Porque nem ela sabia exatamente quanto tempo fazia. O tempo na floresta se media em estações, não em anos. Damian soltou um suspiro, como se já esperasse aquele silêncio. Seus olhos, no entanto, mantiveram-se fixos nela. Havia algo naquele olhar que a fazia se sentir exposta, vulnerável de uma forma que nunca estivera antes. — Não importa — ele disse por fim. — Agora, você vem comigo. Ela arregalou os olhos, o coração acelerando ainda mais. — O quê? Ele não repetiu. Apenas deu um passo à frente, e o instinto de Amélia gritou. Retrocedeu automaticamente, mas encontrou apenas o tronco áspero de uma árvore às suas costas. — Não vou machucar você — Damian garantiu, a voz mais baixa agora. Mas havia uma firmeza nela que não deixava espaço para discussão. Amélia não sabia por que sentia que não tinha escolha. Talvez fosse o cansaço de tanto tempo fugindo. Talvez fosse o olhar dele, que carregava uma certeza que ela não entendia. Ou talvez fosse o que ela não percebia ainda: o laço invisível que já os conectava. Damian soube no instante em que a viu. O vínculo de companheiros foi imediato, um choque profundo que percorreu seu corpo como fogo e gelo ao mesmo tempo. Ele não esperava por isso. Não ali, não daquele jeito. Mas Amélia não tinha idade suficiente para reconhecer esse laço. E isso mudava tudo. Damian não podia reivindicá-la. Não agora. Mas também não podia deixá-la para trás. Amélia soube, naquele instante, que sua vida pacata — e sofrida — em Antiope estava prestes a mudar para sempre.A noite caía silenciosa sobre a floresta, com a lua subindo lentamente no céu, agora mais luminosa e poderosa do que jamais fora. As estrelas ao redor pareciam brilhar com uma intensidade renovada, como se estivessem acompanhando a jornada final de Amélia e Damian. O ar estava fresco, mas carregado de uma eletricidade palpável, como se a própria natureza estivesse prestes a dar um passo importante em seu ciclo eterno.Amélia e Damian estavam à beira de uma clareira, a mão de Amélia firmemente entrelaçada na de Damian. O toque entre eles era mais do que físico — era uma conexão que transcendia os corpos, tocando o espírito e a alma. Havia algo mágico no ar, algo que os chamava para o que estavam prestes a enfrentar. A matilha os acompanhava, em um círculo de respeito silencioso, mas seus olhos estavam atentos, como se soubessem que algo extraordiná
O sol da manhã começava a infiltrar seus raios dourados através das árvores, iluminando a floresta ao redor da casa da matilha. O calor suave da luz do dia era um contraste com a noite anterior, que ainda pairava nas lembranças de Amélia. Ela acordara cedo, como se o peso da noite e o calor de seus próprios pensamentos a tivessem acordado antes que o dia começasse. O corpo ainda se sentia quente, o coração ainda batia mais rápido com a memória da proximidade com Damian. Aquelas sensações, aquelas descobertas, ainda estavam frescas em sua mente.Ela saiu para o jardim, onde as folhas úmidas e a brisa suave do amanhecer a acolheram. O aroma da terra misturado com o cheiro fresco das árvores a fazia se sentir mais viva, mais consciente de tudo ao seu redor. Mas algo dentro dela ainda estava inquieto. Era uma sensação nova, algo que ela nunca
A noite na casa da matilha estava silenciosa, com a única companhia do fogo crepitando suavemente na lareira. A escuridão lá fora parecia imensa, mas dentro, a luz suave das chamas lançava sombras que dançavam nas paredes de madeira, criando um clima íntimo e acolhedor. O cheiro de terra úmida e madeira queimada preenchia o ar, um contraste que se misturava ao calor da lareira e à intensidade que ainda pairava no ambiente.Amélia e Damian estavam novamente sozinhos, longe do resto do grupo. Eles haviam se afastado do fogo, sentando-se em um canto mais isolado da casa, onde as sombras pareciam envolvê-los em uma intimidade inexplicável. Não havia mais palavras entre eles, apenas o som suave das respirações e os olhares carregados de uma tensão quase palpável.Amélia sentia seu coração acelerar cada vez que os olhos de Damian s
A floresta, agora regenerada após a derrota de Gabriel, parecia respirar ao redor do grupo. O ar fresco, a clareza das árvores e o som dos pássaros reanimados eram um contraste com a escuridão que havia consumido a terra por tanto tempo. Porém, para Amélia e Damian, algo mais pesado pairava sobre eles — um fardo invisível, mas presente, que os impedia de desfrutar da paz recém-descoberta.O grupo caminhava em silêncio, mas não era um silêncio confortável. Cada um deles estava imerso em seus próprios pensamentos. Amélia sentia a força do vínculo com seus companheiros, mas também sentia uma lacuna, uma ausência da conexão mental que antes havia compartilhado com eles. Algo estava diferente, mas ela não conseguia identificar exatamente o que.Damian, ao seu lado, também estava quieto, seus passos pesados. O lut
A caminhada até a casa da matilha foi silenciosa, mas cheia de uma tensão palpável. A floresta ao redor estava mais viva do que nunca, como se tivesse se regenerado com a queda de Gabriel, mas, ao mesmo tempo, havia uma sensação estranha que pairava no ar. Os sons da natureza, que antes estavam abafados pela escuridão, agora pareciam mais nítidos, mais claros, mas algo dentro de Amélia estava em desacordo com esse novo mundo ao seu redor. Algo a incomodava, uma sensação de que algo ainda não estava resolvido.O grupo estava exausto. Embora a vitória tivesse sido conquistada e a matilha estivesse finalmente retornando ao seu refúgio, o cansaço físico e emocional ainda os consumia. A transformação de Amélia, a luta contra Gabriel e os poderes que ela despertou dentro de si haviam deixado marcas profundas, mas, ao mesmo tempo, um sentimento de renovação parecia ter se instalado em seu coração. A floresta estava mais leve, o ar mais puro, e, por um momento, parecia
A batalha alcançou seu ponto culminante, e a escuridão parecia engolir tudo ao redor de Amélia. Cada golpe que ela desferia, cada movimento de sua loba branca, gerava uma explosão de luz, mas também uma grande resistência da escuridão que Gabriel controlava. O campo de batalha estava cheio de uma energia quase tangível, um choque de forças que fazia o ar vibrar. Gabriel, com seu sorriso cruel, parecia inquebrável. Ele lançava ondas de sombras contra Amélia, suas mãos se movendo como se ele fosse um mestre de um jogo perverso, cada golpe mais forte que o anterior.Mas, no momento em que a loba branca se lançou contra ele mais uma vez, algo mudou. Amélia sentiu uma onda de calor, uma sensação que não conseguia entender, e de repente, sua visão foi tomada por um brilho intenso. Ela estava lutando, mas, ao mesmo tempo, algo profundo den
Último capítulo