Chovia em Lisboa.
Daquelas chuvas miúdas, persistentes, que mais parecem lembrança do que tempestade.
Luiza caminhava sob o guarda-chuva, o passo lento, o coração inquieto.
O vento vinha do Tejo, frio, cortante, mas havia uma estranha leveza no ar — como se o mundo, finalmente, respirasse depois de segurar o fôlego por tempo demais.
Ela ainda não sabia se o encontraria.
Não tinha marcado nada, não havia planos.
Mas havia aquele pressentimento — o mesmo que sempre a levava de volta aos lugares onde as palavras deles ficaram presas.
O café à beira do rio estava quase vazio.
O garçom a reconheceu, acenou com um sorriso discreto.
Ela pediu o mesmo café de sempre, e sentou-se à mesa onde estivera com ele no dia anterior.
O guardanapo com a caligrafia de Apolo ainda estava ali, dobrado entre os livros que ela carregava.
“Alguns amores não acabam. Só mudam de idioma.”
Luiza passou o dedo sobre as palavras, como quem toca uma cicatriz.
— Ainda guardando provas contra mim? — a voz veio de trás