Mundo ficciónIniciar sesión“Não é que eu não tenha tentado esquecer. É que há amores que não se apagam — apenas mudam de lugar dentro da gente.” O tempo não levou o que eu esperava. Levou as certezas, os planos, a ingenuidade — mas o que ficou foi o que eu mais queria ter esquecido: a lembrança dele. Dizem que há encontros que mudam o rumo da vida, e há outros que a partem em duas metades. O nosso fez as duas coisas. Nos uniu no instante errado, nos separou no momento certo, e ainda assim deixou algo que nem o silêncio conseguiu apagar. Por muito tempo, eu achei que o amor fosse o bastante. Mas o amor, sozinho, nunca foi. Ele precisa de coragem. E nós... nós nunca tivemos coragem o suficiente. Agora, ao escrever esta história, eu me vejo entre o que foi e o que poderia ter sido. Entre o riso e a dor. Entre o antes e o depois de nós. Talvez o tempo tenha mudado tudo — menos o fato de que, quando penso nele, ainda sinto o coração tropeçar. E talvez essa seja a resposta que eu procurava desde o início: o amor não acaba. Ele só aprende a esperar em silêncio.________________________________________ Dedicatória A quem já amou em silêncio, a quem partiu sem despedida, a quem recomeçou mesmo com o coração cheio de lembranças. E a você — que sabe que certas histórias não terminam, apenas mudam de página.
Leer más- Aiii! Para seu idiota! – Eu gritava com o Apolo enquanto ele puxava minha trança e imitava um cavalo. Ele era um chato!
Meu nome é Luiza, meus amigos me chamam de Lú, e o Apolo me chama de pequeno pônei, isso só por que ele é um dia mais velho que eu, um único dia e ele se acha muito mais velho e maduro que eu, ele sempre é um caso à parte. - Por que você grita tanto pequeno pônei? Nossa como você é barulhenta! - Para de me chamar assim seu chato! -Me respeita que eu sou mais velha que você poneizinha. – Ele ria enquanto ainda puxava minha trança! - Um dia! Você é mais velho que eu um único dia Apolo!! – Nos dois tínhamos oito anos, o Apolo era um garotinho baixinho, mais baixo que eu, aliás, gordinho, seu cabelo era totalmente negro, seus olhos eram um tom azul gelo e a pele era tão branca que só de encostar de leve nele ele já ficava todo marcado. - Não importa pequeno pônei! Eu sou mais velho e para mim é isso que importa! – Minha vontade era de dar um soco na cara dele. – Ninguém mandou você ser tão pequena além de feia. – Ele ria enquanto falava! - Ei, eu não sou feia não – gritei já muito irritada, tudo bem, talvez eu não seja uma criança capa de revista né, mas eu não sou feia! - Crianças! Venham comer o lanche que preparei pra vocês! – A mãe do Apolo gritou. Claro, a melhor parte de todas, a mãe do Apolo, a senhora Cássia era a minha babá! Ou seja, eu fico na casa dele desde manhã cedinho até a noite, e em muitas noites eu tenho até que dormir lá! Nos dois estávamos brincando na sala juntos, com os brinquedos dele todos espalhados, ele se levantou e começou a ir em direção para a cozinha! - Ei vem me ajudar a catar! – Ele se virou para mim e me encarou rindo. - Cata você pequeno pônei! Você e a mais nova então você e a minha escrava- ele se voltou novamente para a cozinha e saiu correndo e rindo da minha cara! - Eu odeio você Apolo! Odeio você com todas as minhas forças! – Eu gritei com toda a força dos meus pulmões! O Apolo tinha o dom de me fazer raiva e me tirar do sério! – Garoto idiota! Seu imbecil! Babaca! – Eu era uma criança com um vasto vocabulário ofensivo né?! Mas claro que eu tinha aprendido tudo com o Apolo! Ele sempre conseguia me deixar irritada, eu mal vejo a hora que eu vou crescer e ser uma adulta, vou ser rica, muito rica e vou obrigar o Apolo a trabalhar pra mim, ele vai ter que limpar o chão da minha mansão todo dia, e vou fazer ele lavar os vários banheiros com uma escova de dente! Ele mal perde por esperar, mas, enquanto isso ainda não acontece, eu fico aqui mais uma vez arrumando a bagunça dele sozinha!Lisboa, seis meses depois.O inverno chegava manso, com o vento salgado vindo do Tejo e o cheiro de castanhas assadas pelas ruas. A cidade parecia dormir em paz, como se guardasse no coração cada história que o mar lhe contava.Luiza caminhava devagar pela Feira do Livro, o cachecol azul enrolado no pescoço, as mãos enfiadas no bolso do casaco. O novo título já estava em pré-venda, e as pessoas a reconheciam, pediam fotos, diziam que Depois do Fim tinha mudado algo nelas.Ela sorria, agradecia, e se perdia entre as barracas de livros antigos — o tipo de lugar onde os recomeços se disfarçam de coincidências.O céu estava acinzentado quando ela o viu.Apolo.De novo.Entre pilhas de romances e folhas amareladas, com uma xícara de café nas mãos e aquele mesmo sorriso contido, como se tivesse medo de quebrar o ar ao redor dela.— Você de novo — ela disse, meio rindo, meio suspirando.— Eu disse que ficaria mais um pouco — respondeu ele, com aquele tom calmo, quase tímido.— E ficou seis m
[Luiza]Dois anos.Dois anos desde o caos, desde as manchetes, desde o olhar dele me pedindo perdão através de uma tela.Dois anos desde que aprendi que o amor, às vezes, não morre — ele apenas muda de casa.Lisboa amanhecia dourada naquela manhã. O sol batia nas janelas da livraria como uma promessa antiga, e o cheiro de café recém-passado se misturava ao perfume das flores que cobriam a entrada.Meu nome estava na vitrine, em letras delicadas e firmes:“Depois do Fim – Luiza Monteiro.”Nunca gostei de ver meu nome grande assim. Parecia estranho, como se pertencesse a outra pessoa — uma que sobreviveu ao que eu vivi.Mas ali estava eu.Inteira, cansada, e finalmente em paz.A sala estava cheia.Rostos sorrindo, câmeras piscando, vozes dizendo “parabéns”.Eu sorria também, mas por dentro, o coração batia em um ritmo manso — o mesmo ritmo de quando eu escrevia, nas madrugadas em que a solidão parecia uma companhia gentil.“Luiza, conte pra gente — o livro fala sobre recomeços?” pergunt
Chovia em Lisboa.Daquelas chuvas miúdas, persistentes, que mais parecem lembrança do que tempestade.Luiza caminhava sob o guarda-chuva, o passo lento, o coração inquieto.O vento vinha do Tejo, frio, cortante, mas havia uma estranha leveza no ar — como se o mundo, finalmente, respirasse depois de segurar o fôlego por tempo demais.Ela ainda não sabia se o encontraria.Não tinha marcado nada, não havia planos.Mas havia aquele pressentimento — o mesmo que sempre a levava de volta aos lugares onde as palavras deles ficaram presas.O café à beira do rio estava quase vazio.O garçom a reconheceu, acenou com um sorriso discreto.Ela pediu o mesmo café de sempre, e sentou-se à mesa onde estivera com ele no dia anterior.O guardanapo com a caligrafia de Apolo ainda estava ali, dobrado entre os livros que ela carregava.“Alguns amores não acabam. Só mudam de idioma.”Luiza passou o dedo sobre as palavras, como quem toca uma cicatriz.— Ainda guardando provas contra mim? — a voz veio de trás
O sol nascia devagar sobre Lisboa, tingindo o Tejo de um dourado tímido.As gaivotas riscavam o céu em voos preguiçosos, e o ar ainda carregava o frio da madrugada.Luiza observava o movimento da rua pela janela da pequena cozinha.A chaleira chiava no fogão.O cheiro do chá se espalhava, familiar, reconfortante — como um ritual de sobrevivência.Mas aquela manhã não era como as outras.Ela não dormira.A mensagem de Apolo permanecia aberta no celular, o nome dele ali, mudo, como uma ferida que reabre sozinha.“Estarei em Lisboa amanhã.”Ela relia as palavras pela enésima vez, tentando decidir o que doía mais — a lembrança ou a esperança.A mãe havia saído cedo, deixando sobre a mesa um bilhete simples: "Se for encontrá-lo, leve casaco. O vento muda depressa."Luiza riu baixo, entre o afeto e o desespero.Nem a mãe sabia mais o que aconselhar.Talvez ninguém soubesse.O relógio marcava nove e vinte quando ela saiu.O ar frio cortou o rosto, e o céu ainda estava meio nublado, como se L
O silêncio dentro da editora parecia ecoar tudo o que havia se partido.A fachada envidraçada da editora refletia a chuva fina de São Paulo — como se até o céu tivesse vergonha do que acontecia ali dentro.Apolo chegou cedo. Cedo demais.Mesmo assim, repórteres já se aglomeravam na porta.Microfones, flashes, perguntas afiadas atravessando o ar.— Senhor Duarte, é verdade que a autora não autorizou a publicação?— Luiza Monteiro vai processar a Editora?— Foi uma jogada de marketing ou um erro ético?Ele não respondeu.Passou entre eles como quem atravessa um campo minado.O rosto rígido, o olhar distante — preso em algum ponto entre a culpa e o desespero.O corredor principal estava vazio.As paredes, antes vibrantes, pareciam agora testemunhas mudas de um crime silencioso.Na sala de reuniões, a equipe o esperava em murmúrios baixos.Apolo entrou sem cumprimentar ninguém, largou o casaco sobre a cadeira e abriu o notebook.O silêncio era denso, como se todos temessem o som da própri
O som das notificações parecia um bombardeio.O nome Luiza saltava das telas, manchetes e postagens como uma ferida aberta.“Autora renega próprio livro.”“Contradições e polêmicas cercam novo lançamento da Editora.”“Luiza Monteiro some após publicação inesperada.”As palavras piscavam diante dela, impiedosas, frias.O celular vibrava sobre a mesa da cozinha, mas Luiza não se moveu.Estava sentada há quase uma hora, olhando para o café que já esfriara, sentindo o gosto metálico da impotência subir pela garganta.A mãe apareceu na porta, o olhar preocupado.— Filha… desliga isso.— Ele publicou — disse, com a voz rouca. — Ele realmente publicou.Silêncio.A mãe respirou fundo e se aproximou devagar, tocando o ombro dela com cautela, como se Luiza fosse uma bomba prestes a explodir.— Talvez ele tenha achado que estava fazendo o certo — tentou amenizar.Luiza riu — um riso seco, sem graça, quase um soluço.— O certo? Publicar algo que não lhe pertence? Sem sequer me avisar? Ele sabia o





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