O amanhecer em São Paulo parecia frio até para o vidro espesso das janelas da Duarte Editora.
Apolo Duarte chegou cedo. O corredor ainda cheirava a café recém-passado e tinta fresca, o silêncio era confortável — até começar a incomodar.
Na sala dele, o manuscrito repousava aberto sobre a mesa: Mais um capítulo de nós, assinado por “Lua”.
O nome de mentira não escondia mais a verdade.
Ele o encarou como quem encara uma ferida cicatrizada por fora, ainda latejando por dentro.
Passara a noite lendo, relendo, sublinhando trechos que pareciam escritos para atingi-lo.
Trechos que falavam de partidas e retornos, de homens que controlavam demais o que sentiam.
No rodapé de uma das páginas, a caligrafia firme dela: “A emoção é o que sobra quando o silêncio não cabe.”
Ele riu sem humor. — Ainda acha que sabe traduzir tudo, Luiza.
A porta bateu duas vezes e se abriu.
Brenda surgiu, impecável, equilibrando uma xícara e uma pasta.
— Café forte, do jeito que você gosta — disse. — Achei que fosse pr