O dia amanheceu cinza, como se o céu soubesse que algo estava prestes a mudar.
Luiza olhou pela janela do pequeno apartamento, o e-mail ainda aberto na tela do notebook, as palavras frias da confirmação da reunião piscando diante dela.
Mas o que a fazia perder o ar não era a mensagem.
Era a ligação da noite anterior.
A voz da tia Cássia — suave, trêmula, quase um sussurro:
“Preciso te ver, minha menina. É importante.”
Agora, parada diante do portão azul da casa onde crescera, Luiza sentia o passado se erguer como um cheiro antigo. A pintura descascada, o vento batendo nas cortinas da varanda, o som distante de uma chaleira no fogo.
O coração dela batia rápido, como se cada passo fosse um reencontro com uma parte que tinha deixado para trás.
Quando a porta se abriu, tia Cássia estava ali — os cabelos grisalhos presos num coque, o mesmo olhar doce que sempre dizia eu sei, mesmo quando você não fala nada.
Luiza se jogou em seus braços, e o tempo pareceu desmanchar.
Por um momento, não ha