O relógio marcava nove quando Luiza atravessou novamente o saguão da editora.
Os vidros espelhados refletiam a mesma mulher do dia anterior, mas algo nela havia mudado. O batom era o mesmo tom de vinho, o cabelo preso de modo displicente, a postura firme — porém o olhar, esse, agora guardava algo diferente. Uma calma forçada, uma muralha construída às pressas para conter o caos.
Apolo a esperava em sua sala.
A mesa de madeira escura estava coberta por papéis, anotações e o manuscrito impresso. Ele não havia dormido direito — a noite fora longa, perturbada pelas lembranças que teimavam em vir junto com o perfume que ela deixara no ar.
Quando ela bateu na porta, o som foi leve.
Mas ele o sentiu como um impacto.
— Entre — disse, sem levantar o olhar.
Ela entrou. Um segundo de silêncio, como se o ar entre eles precisasse se ajustar.
— Trouxe as anotações — respondeu Luiza, colocando uma pasta sobre a mesa.
A voz era firme, mas o leve tremor nas mãos denunciava o contrário.
Apolo ergueu os