A manhã estava morna, o tipo de temperatura que parece fingir que está tudo bem. O sol batia pelas cortinas finas da sala, riscando o chão de luz. A mãe estava sentada no sofá, o lenço amarrado sobre a cabeça, os olhos tranquilos pela primeira vez em dias. Eu estava na cozinha, lavando a louça, tentando ocupar as mãos pra não ocupar a cabeça.
O celular dela vibrou. “Tia Cássia”, dizia na tela.
— Atende pra mim, filha? — pediu, com a voz cansada.
Peguei o aparelho e levei até ela.
— É a tia.
Ela sorriu fraco e atendeu.
— Oi, Cássia! Como você tá?
O som da voz da minha tia preencheu a sala, mesmo que eu só ouvisse fragmentos. “Saudade de vocês”, “como está o tratamento?”, “queria poder ir aí”. E então o nome dele escapou, como uma lâmina.
Apolo.
Meu corpo reagiu antes da mente. O coração apertou, e as mãos tremiam sobre a pia. Eu tentei não ouvir, mas as palavras encontraram o caminho até mim.
— Ele anda... estranho, sabe? — dizia minha tia, e o silêncio da minha mãe pesou. — Não sai mu