Acordei com o som das gaivotas sobrevoando o bairro e o sol tímido entrando pela janela.
Lisboa tem esse costume de amanhecer com um tipo de melancolia bonita — um silêncio dourado que parece entender o que se passa dentro da gente.
Minha mãe já tinha saído. Desde que voltou a trabalhar meio período no hospital, ela tenta fingir que está tudo bem. Eu também finjo. Somos boas nisso: fingir que não estamos com medo, fingir que não sentimos falta de casa, fingir que a saudade não grita.
Passei o café e sentei à mesa.
O cachecol de Noah ainda estava sobre a cadeira, desde o dia do beijo.
Toquei o tecido e senti o cheiro dele.
Foi estranho… aquele conforto leve, quente, que vem quando alguém te olha de um jeito que o mundo não olha mais.
Mas junto vinha a culpa. Sempre ela.
Porque ainda existia Apolo — mesmo que só em lembrança, mesmo que em silêncio.
Peguei o celular e o abri sem pensar.
Nenhuma mensagem dele.
Ainda bloqueado.
Ainda parte de mim.
Suspirei e deixei o aparelho virado pra ba