Faz apenas um dia desde a crise da minha mãe, mas parece que o tempo se arrastou por semanas. A casa ainda tem cheiro de hospital — aquele misto de desinfetante e medo — e, por mais que eu tente fingir que está tudo bem, minha cabeça ainda gira com a cena de ontem.
O corpo dela tremendo, os olhos virando, o som do meu próprio grito ecoando no corredor do hospital. Nunca vou esquecer o toque frio da mão dela quando eu tentei acordá-la. Nunca.
Acordei cedo, mesmo sem ter dormido direito. A luz do sol atravessava a janela do quarto novo, tingindo o teto de um dourado que não me dizia nada. Aqui, tudo ainda parece provisório — a cama, as cortinas, até o ar que eu respiro. É como se nada fosse realmente meu.
Ou talvez eu tenha deixado tudo que era meu com ele.
Passei o café como a mamãe gosta — bem fraco, quase água — e levei para o quarto dela. Ela estava acordada, o olhar meio perdido, mas quando me viu, sorriu.
— Dormiu bem, meu amor? — a voz dela saiu mansa, mas cansada.
Menti. — Dormi