Lisboa tem um tipo de silêncio que parece conversar com a gente.
Não é o mesmo silêncio do quarto onde eu chorava à noite, nem o da minha antiga casa — aquele carregava lembranças demais. Este é diferente. É um silêncio cheio de passos apressados, de buzinas distantes, de ondas batendo lá longe no Tejo. Um silêncio que se mistura com o som do mundo e, de algum jeito, me acalma.
Minha mãe já acorda melhor. O tratamento a deixa cansada, mas ela insiste em sorrir. Quer voltar à rotina, trabalhar meio período no hospital, “pra não enlouquecer”, como diz. Eu sei que, no fundo, ela quer me proteger — me fazer acreditar que tudo está normal, mesmo quando não está.
Hoje ela saiu antes de mim. Deixou o cheiro do café espalhado pela cozinha e um bilhete sobre a mesa:
“Filha, não se esqueça de comer. E de viver. Com amor, Mãe.”
“De viver.”
Fazia tempo que alguém me lembrava disso.
Peguei meu casaco bege e saí. O frio de Lisboa em novembro é cortante, mas gosto da sensação — o vento frio contra o