Lisboa parecia feita de sombras naquele dia.
O céu pesado, o ar frio, e o som distante dos bondes que passavam lentos pelas ruas estreitas.
Eu já devia estar acostumada com o silêncio do apartamento, mas havia algo diferente naquela manhã — um tipo de pressentimento.
O sétimo dia de tratamento da minha mãe começou com esperança.
Ela sorriu antes de sair, dizendo que se sentia mais leve, que talvez o corpo estivesse se adaptando.
Eu quis acreditar.
Mas as mãos dela tremiam quando pegou a bolsa, e aquele detalhe miúdo já dizia mais do que qualquer palavra.
Horas depois, a casa ficou cheia de um barulho que eu nunca vou esquecer.
Um som surdo. Um copo caindo.
Corri até o quarto.
Minha mãe estava caída ao lado da cama, os olhos revirados, o corpo rígido.
— Mãe! — gritei, ajoelhando ao lado dela, as mãos trêmulas. — Mãe, por favor!
As palavras saíam em soluços.
O desespero me invadiu inteiro.
Peguei o celular, disquei o número de emergência, tentando controlar o choro enquanto explicava, e