O despertador tocou antes do sol nascer.
Durante alguns segundos, fiquei olhando o teto branco, tentando lembrar onde eu estava.
Lisboa ainda me parecia um sonho confuso — ou talvez um pesadelo bonito.
Nada aqui tinha o cheiro de casa.
Nem as paredes, nem o ar, nem o silêncio.
Levantei devagar. O chão frio me despertou mais que o café que minha mãe deixara na mesa antes de sair para o hospital.
Ela tinha acordado cedo para mais uma sessão de tratamento.
Os remédios estavam começando a deixar marcas em seu corpo.
As olheiras mais profundas, a pele mais pálida, o sorriso mais cansado.
Mas, ainda assim, ela sorria.
Como se o amor pudesse disfarçar a dor.
Olhei pela janela.
Lisboa estava cinza.
Um tipo de cinza diferente — o que parece bonito, mas pesa.
Peguei a mochila e saí.
Noah já me esperava na esquina, com as mãos no bolso e um copo de café quente.
— Trouxe reforço — ele disse, me entregando o copo.
Sorri, mesmo que por reflexo.
— Se for tão forte quanto da última vez, eu desmaio.
—